*Por Dr. Paulo Lima
Creio que não existe
tema para despertar mais paixões que a política. Até mais que o futebol, muito
embora saiba que ambos, não raras vezes, provocam até a morte. Mas não quero
falar de morte, já que estas mal traçadas linhas propõem-se a contar uma
estória até certo ponto engraçada, envolvendo fatos políticos um tanto
pitorescos, passados numa cidade do interior, aqui pertinho de nós, no vizinho
Estado das Alagoas. Por falar nisso, faz
tempos que não visito aquele Estado, cuja cidade, Palmeira dos Índios, aprendi
a gostar, em razão das amizades que ali cultivei durante a minha juventude,
quando tocava sax tenor numa banda de baile que usava o sugestivo nome de “Os
Tremendões”, vejam vocês. Alagoas,
apesar da fama de ser um Estado violento, é terra de gente da melhor qualidade,
sim senhor! Mas também tem gente valente e violenta, tal qual um Deputado, que,
escreveu não leu o pau, ou melhor, a mordida come no centro!
A estória que vou
retratar nestas mal traçadas linhas se passou no chamado “Natal dos Ricos”,
numa cidade do interior daquele Estado, há alguns anos atrás. Como já disse, Alagoas é um Estado um tanto
pitoresco e suas cidades não ficam atrás, principalmente no interior, onde
ainda existe uma certa segregação social, a ponto de famílias tradicionais
denominarem uma festa no Natal, que deveria ser a expressão maior da caridade e
da irmandade entre as pessoas, de “Natal dos Ricos”, como se o Natal pudesse ser
dividido entre ricos e pobres! Pois bem, dizem as más línguas, que, todos os
anos é a mesma coisa. A festa começa tranqüila, mas, a certa altura, quando os
partícipes já estão “com o tolé cheio de cana”, fazendo uso de uma expressão
popular um tanto em desuso (perdoem o trocadilho) na nossa terrinha, o pau
canta! Isto porque, as famílias tradicionais daquela cidade, que tomam conta da
prefeitura, como sói ocorrer em tantas outras cidades de nosso querido “Leão do
Norte”, alternando-se no poder, não se entendem e, embora tentem se harmonizar
nessa tal festa, não tem jeito; sempre sai confusão ao final. Vocês já
repararam que é sempre a mesma coisa, em se tratando de política?
Pois é assim mesmo,
desde os tempos das Capitanias Hereditárias, que certos grupos políticos,
representando famílias, com raras exceções, em alguns Estados brasileiros e,
principalmente, em nossas cidades interioranas, dominam a cena política, se
alternando no poder, dominando o Estado ou a cidade, como se o poder fosse uma
herança que pudesse ser transmitida de pai para filho. Aqui mesmo, em “Santana
do Agreste”, existe um certo coronel, conhecido popularmente por “coroné maçaranduba”
(este é o seu sobrenome), que acha que a cidade é sua, vejam vocês! Na verdade,
devido ao seu gênio forte ele recebeu o apelido de “coroné pé de ferro”, isto
porque todas as vezes que é contrariado quebra tudo quanto é cadeira e mesa de
sua casa, com chutes e pontapés e, se estiver na prefeitura, onde manda e
desmanda embora não seja o prefeito, não fica um móvel inteiro e quem se meter
a besta leva chute no traseiro. Eita!? E não é que rimou? O nome “Santana do
Agreste” é fictício e tomei emprestado da obra de Jorge Amado, “Tieta do
Agreste”.
E com o Deputado Didi
Portugal (na época dos fatos ele era vereador) não tem boquinha não, se ele não
quebrar a cara do sujeito que lhe afrontar, com um tabefe, ele usa os seus
famosos dentes e o sujeito que se prepare, pois ele pode arrancar um pedaço de
braço, um dedo, ou até uma orelha! Daí o apelido de “Didi dente de tubarão!”
A festa estava animada
e a conversa política corria solta, quando, a certa altura um colega vereador
(nesta época Didi ainda era vereador), criticou Didi porque o mesmo estava
querendo aumentar os vencimentos dos vereadores acima dos vencimentos do
prefeito e isso não era legal. E a discussão começou, um chamando o outro de
ladrão, cabra safado e outros adjetivos pertinentes, quando, de repetente, Didi
meteu o dente na orelha do colega e arrancou-lhe um pedaço; tirou o pedaço da
orelha do sujeito da boca, pegou o seu copo de Uísque, olhou com apetite, deu
um gole e engoliu o pedaço e, com o sangue ainda escorrendo no canto da boca
bradou: “comigo é assim: escreveu não leu, o pau comeu!” E o coitado do seu
colega vereador teve que ser socorrido às pressas para o hospital da cidade,
para suturar o que restou de sua orelha.
Eu não tenho nenhuma
amizade com esse “nobre deputado”, nem o conheço, mas, se o conhecesse lhe
daria de presente um alicate. Vocês já imaginaram o estrago que ele faria?
Cala-te boca…
Um abraço a todos.
*DR. PAULO ROBERTO DE
LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito
pela Faculdade de Direito do Recife, ex Procurador Federal (aposentado) e
advogado.
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