Pensava em dar
outro título a estas mal traçadas linhas, mas, em homenagem ao Papa Francisco -
um homem extraordinário - resolvi colocar no papel o que as nações mundiais tem
escutado através de sua voz, nesses últimos dias, em vão. Entre cercas e mortes foi o título com o qual
comecei a rascunhar estes escritos, isto por conta das notícias que nos chegam,
diuturnamente, sejam através dos jornais televisivos, seja a través da imprensa
escrita, dando conta de centenas e centenas de mortes de inocentes, que, na
tentativa desesperada de fugir das guerras nos seus países de origem,
aventuram-se mar afora, em barcos infláveis de borracha ou em balsas, embarcações,
que, de tão frágeis naufragam diante de uma onda mais forte. Esta semana fiquei deveras chocado ao abrir
uma postagem no Facebook, pois me deparei com uma imagem dantesca, de vários
corpos, homens, mulheres e crianças, mortas, encalhando nas areias das praias
libanesas. E fico a perguntar aos meus botões, o que essas pessoas teriam
feito, meu Deus, para merecer morrerem desta maneira? Nada, é a resposta. Apenas estão tentando
fugir da guerra fratricida do ditador daquele País, com o chamado "Estado
Islâmico", um movimento comandado por terroristas fundamentalistas
religiosos, que mata sem dó nem piedade pessoas inocentes, em nome de uma
religião, vejam vocês. Não é somente
naquele País. Falo de outras guerras, seja em países africanos vizinhos ou
mesmo em países europeus, a exemplo das guerras da Sérvia, Croácia e Bósnia, na
Europa Oriental, onde tombaram por terra milhares de inocentes. E não existe
nada mais cruel e satânico do que se matar em nome de Deus!
Causa uma
profunda tristeza ver imagens de inocentes naufragando nos mares sem nunca chegar
com vida ao seu destino ou, numa outra situação, ser deportados quase que
imediatamente, ao chegar nas costas dos países europeus, a exemplo da Itália,
França, Alemanha, sendo colocados em um navio, que tem como destino o país de
origem, onde irão morrer, de fome ou diante do fogo de uma metralhadora.
Causa uma
profunda tristeza saber que o dinheiro gasto na fabricação e compra desses
armamentos poderia perfeitamente ser empregado na produção de comida, remédios,
vestes, moradia... Mas isso não interessa. O que importa é defender a fronteira
de um território ou de um país, muitas vezes demarcada por cercas de arame
farpado, que findam por aprisionar na sua teia mortífera um inocente, que no
seu desespero morre espetado ao tentar ultrapassar aquela barreira cruel. E porque tudo isso meu Deus? Se, afinal, como tem
dito insistentemente o Papa Francisco, num quase clamor, a terra é de todos? É
evidente que o Criador, ao nos entregar a terra, não colocou muros ou cercas de
arame farpado para dividir as nações. Quem fez e continua fazendo essa odiosa
separação são as pessoas, os governantes e, em outras situações, as facções terroristas
e de natureza religiosa fundamentalista que tem suas raízes no preconceito e na
discriminação, seja de raça, de religião ou de cor.
Me entristece
saber e ver que até o nosso País não se encontra imune a essa terrível doença.
Querem ver um exemplo? Quem de vocês, que me lê neste momento, não já viram ou
ouviram alguém gritar revoltado contra o "bolsa família", por
exemplo, que é pago a um pobre, muitas vezes chamando esse benefício social de
bolsa esmola? O que é isso se não um preconceito? Querem ver outro exemplo? Ontem mesmo li nas páginas da Folha de São
Paulo, que um renomado neurocientista e professor da Universidade de Colúmbia,
nos Estados Unidos, Carl Hart, foi barrado na portaria de um Hotel 5 estrelas,
em São Paulo, onde havia sido convidado para dar uma palestra a Juízes e
Promotores de Justiça. E sabem por quê? Porque é negro e usa aquelas tranças
tipo "Bob Marley"! Isso é o que, afinal, pergunto?
O mais
engraçado, se é que se pode achar esse fato engraçado, é que quando teve a sua
entrada liberada e adentrou no auditório o que viu? Uma plateia onde não havia um só negro. Fez muito bem o neurocientista quando bradou
para suas Excelência, em alto e bom som: "Vocês deveriam ter vergonha"!
É certo, que, em frente daquela hotel de luxo não tem cerca de arame farpado,
mas, indago, e precisa?
*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em
Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de
Direito do Recife, ex-Procurador Federal, e atualmente exerce a advocacia.
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