sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES (Parte I)

*Dr. Paulo Lima

Sei que vocês, que têm a bondade e a paciência de ler os meus escritos estão imaginando, que, por causa do título acima irão ler um artigo de cunho socialista, lhes digo: erraram redondamente! Em verdade estas mal traçadas linhas não têm muito a ver com o título acima, ou será que tem? Sinceramente já nem sei mais. O fato é que imaginava dar outro título, tal como, “retratos de uma tragédia anunciada”, mas o que eu gostaria mesmo era estar escrevendo sobre coisas boas, alegres... Deixemos de tergiversar e vamos ao que interessa.
Ao sentar em frente ao computador havia de acabado de assistir um documentário muito interessante, sobre uma associação de mulheres da Costa Rica, que, na década de 1990 foram deixadas em seus pequenos sítios, por seus maridos, tangidos para a cidade grande em busca da sorte e, sendo elas plantadoras de café fundaram uma associação em busca de profissionalizar a sua atividade, e hoje o café por elas produzido é sucesso absoluto de vendas no mercado internacional e elas se sustentam e aos seus, com o fruto desse trabalho, qual seja, o café orgânico. E fiquei a matutar com os meus botões: o que aconteceu com o café que era produzido em nossa Serra da Taquara?
Ainda lembro, quando pequeno, das idas para o sítio dos meus avós paternos, nas “flecheiras”, na época da colheita do café. Para mim era uma delícia, principalmente na hora do almoço, quando comíamos aquele feijão preparado numa panela de barro, com carne de charque, toucinho de porco, lingüiça e banana verde, tudo misturado! Hoje guardo apenas recordações daquele tempo, já que nem sei mais se ainda existe o sítio; o que sei é que o café que outrora era produzido, não somente nele, mas em vários sítios, aqui de nossa terrinha, está desaparecendo de nossas matas, posto que vem sendo vertiginosamente substituído por capim e gado e isto causa uma tristeza profunda, em comparação com a história de sucesso que acabei de relatar. É uma pena.  O que está acontecendo, afinal?
Tantas são as respostas, que somente caberiam num livro, não num pequeno espaço como este, mas a realidade é que a natureza está agonizando e pede socorro e se providências urgentes não forem tomadas, num breve espaço de tempo não teremos mais, sequer, o verde de nossas matas, muito menos o café gostoso que ainda temos o prazer de provar, fruto da tenacidade e da teimosia de pouquíssimas pessoas, a exemplo do meu amigo PAULO ARAGÃO, aqui de Taquaritinga do Norte, mais conhecido como “Paulo de Elpídio”, que ainda produz um café de excelente qualidade.  Até mesmo LUIZ OLAVO, um dos netos do falecido SEVERINO PEREIRA DA SILVA, patrono de Taquaritinga do Norte, proprietário do Sítio Conceição, que detinha a maior produção de café orgânico de nossa região, abandonou o lugar à própria sorte, em razão, talvez, dos prejuízos crescentes decorrente da produção dessa cultura milenar, o café. Não sei ao certo qual vai ser o destino daquele sítio, mas temo só em pensar que poderá ser transformado em pastagem para gado. O fato, repiso, é que a serra está morrendo e pede socorro.


*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco, Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, Advogado, e atualmente exerce o cargo de Procurador Federal.

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