Taquaritinga do Norte
e Bonito, no Agreste, perderam quase seis hectares de área verde em incêndios
iniciados por moradores, mas agravados pela vegetação seca e pela falta de
estrutura para evitar a propagação. Em Pernambuco já chegam a 891 o número de
queimadas registradas em vegetações neste ano. Com 308 ocorrências, outubro se
destaca como o mês com mais casos - 114 a mais em relação ao mesmo período do
ano passado. O cenário pessimista é revelado por dados do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), que aponta 30 mil focos de incêndio no País, com a
situação mais grave no Nordeste. No Estado, especialistas alertam para os
riscos, uma vez que se enfrenta a pior seca dos últimos cinco anos. E o cenário
deve piorar nesses próximos três meses, com a chegada do verão.
No Agreste, cuja
população de quase dois milhões tem sofrido com a estiagem, dois graves
incêndios foram registrados nos últimos 15 dias nos municípios de Taquaritinga
do Norte e Bonito. Juntas, as cidades perderam aproximadamente seis hectares de
vegetação. Um levantamento de toda a área verde perdida no Estado em
decorrência das constantes queimadas ainda está sendo feito pela Agência
Estadual de Meio Ambiente (CPRH).
Mas especialistas já
contabilizam as perdas da flora e da fauna. E lembram que o alerta já tinha
sido dado pelo Ministério de Meio Ambiente, que decretou situação de emergência
para a RMR, Zona da Mata, Agreste e Sertão no início do ano. “As queimadas
empobrecem o solo, prejudicam a flora, comprometem a fauna, além de fragmentar
ainda mais o habitat natural dos animais”, enumera Alexandre Moura, um dos
diretores da Associação Ecológica de Cooperação Social (Ecos Brasil). Ele
destaca a falta de educação ambiental como agravante. Quando o incêndio não é
intencional, ressalta, as pessoas têm o hábito de queimar o solo para
prepará-lo para a agricultura ou queimam lixo em área de mata. “Uma pena que o
alerta do Ministério do Meio Ambiente não tenha sido considerado, que não
tenham investido em um plano de contingência”.
SEM CONTINGÊNCIA: Foi
justamente pela falta de um plano que Taquaritinga do Norte e Bonito tiveram
grandes perdas de vegetação. Nesses dois municípios, as brigadas de combate aos
incêndios foram improvisadas pela população, após a espera de dias pela chegada
dos Bombeiros.
Em Bonito, por exemplo, foi preciso mobilizar os de Bezerros e
Caruaru, distantes 47,9km e 63km, respectivamente. Ainda assim, eles chegaram
três dias depois.
“Se um incêndio iniciar agora em qualquer que seja o
município do Estado, não há equipamentos, tampouco pessoal para combatê-lo com
eficiência. Somam-se ainda a burocracia para o deslocamento, combustível, pessoal,
uma série de fatores. No fim das contas, é a natureza que perde”, avalia Adélia
Oliveira, membro do conselho diretor da Associação Pernambucana de Defesa à
Natureza. Para ela, os incêndios que vêm ocorrendo não são problemas pontuais,
mas estruturais.
Em Pernambuco, a
responsabilidade em evitar incêndios é de cada município. À CPRH cabe o resgate
da fauna. Já o combate às chamas, é obrigação dos Bombeiros. Em Bonito, a
gestão municipal admite que não há fiscais ambientais de prontidão nos fins de
semana - quando comumente ocorrem os crimes ambientais.
A diretora de
Licenciamento Ambiental de Bonito, Jaidenize Viana, reconhece que a distância
para a base dos Bombeiros dificulta. “Mas, estamos atentos a qualquer labareda.
A qualquer sinal de fumaça, já os acionamos”. O que se viu foi uma área de quase um hectare de Mata Atlântica na Serra do Rodeadouro,
ponto turístico às margens da PE-103, ser queimada. Agora, restam os lamentos.
“O fogo levou tudo. Daqui a um tempo não teremos mais verde. E é esse verde
todo da Serra que Bonito tem de mais belo”, lamenta Maria do Carmo Silva, 61,
uma das moradoras mais antigas.
Em Taquaritinga, onde cinco
hectares de uma área de brejo de altitude foram consumidas, mais lamentos.
“Perdi todo o pasto onde ficavam os bois”, conta o pecuarista José Silva, 68,
que realocou os animais para um sítio nas proximidades. “Estou contando com a
boa vontade dos vizinhos”. Sem qualquer plano de contingência contra incêndios,
a Prefeitura de Taquaritinga decretou estado de calamidade pública para
conseguir subsídios para recuperar a vegetação. Mas não há como recuperar os
lagartos, preguiças, raposas e árvores centenárias dizimadas. (Por: Priscilla
Costa, da Folha de Pernambuco / Fotos: Aldo Rocha)