*Dr.
Paulo Lima
Fazia Tempos que não caminhava
pelas areias escuras da praia de Rio doce, aqui em Olinda. Algumas pessoas com
mais de 80 anos, que tiveram oportunidade de conhecer a beira mar de Olinda,
nos idos de 1950, contam que após Casa Caiada a praia era um imenso areal
branco, com vários coqueiros e cajueiros; centenas e centenas de cajueiros que
a vista não alcançava, tanto ao longo da praia, como em direção ao Oeste. Devia
ser uma paisagem maravilhosa. Hoje, não. O que vemos é um imenso paredão de
edifícios, que, a cada dia que passa tende a se entrelaçar e formar um bloco
quase monolítico, sufocando as ruas e os bairros adjacentes. É o progresso e a
especulação imobiliária, resultado da ganância das incorporadoras que não
perdoam, sequer, resquícios desse passado, a exemplo de algumas construções,
pequenas e simpáticas casas de alvenaria com terraços aconchegantes, que retratam
uma época não muito distante e que estão desaparecendo para dar lugar a esses
blocos de concreto frio, que dão abrigo a moradores de semblante fechado e
triste tal qual suas habitações.
Eu não sei o motivo que fez as
areias da praia de Rio Doce escurecerem, mas certamente resultou, em parte, dos
quebra-mares artificiais que foram construídos ao logo do litoral, a pouco mais
de cinqüenta metros mar adentro, para evitar que a Av. Marcos Freire, a chamada
orla de Olinda fosse “lambida” pelo mar. Outra parte decorre da velha e
conhecida poluição. Tudo é uma sucessão de fatores, já que, especula-se, o
avanço do mar foi provocado pela construção do Porto de Suape, no Cabo de Santo
Agostinho. O que sei é que, de Candeias, em Jaboatão do Guararapes, até Maria
Farinha, nos limites de Itamaracá - a Ilha do amor, que foi cantada em prosa e verso pelo Rei Reginaldo
Rossi - passando por boa viagem, as areias brancas da praia estão
desaparecendo... É o progresso com suas conseqüências.
No entanto um fato inusitado me
fez dar uma boa risada esta manhã. Estava passando em frente à Igrejinha de Rio
Doce e me deparei com a turma dos papudinhos. Para quem não conhece, são uns
oito, dez, doze no máximo, que todos os dias, à exceção das segundas feiras, se
juntam em volta de uma garrafa “pet” de um litro de coca, cujo conteúdo não é o
escuro-lama do famoso refrigerante, mas sim, o cristal brilhante da “água
que passarinho não bebe”. São pessoas simpáticas, alguns “cantores”,
outros, “poetas”, que fazem sempre questão de cumprimentar nós outros que
cruzamos por eles em nossas caminhadas matinais.
Esta manhã a cena estava um
pouco diferente, já que “Lela” – eles chamam por esse apelido a única mulher que faz parte do
grupo – estava injuriada com “Doca”, um deles. O motivo? O
infeliz havia “afanado” um Super Latão de Pitú, que a mesma comprara na noite
do dia anterior, com uns trocados que havia ganho, não sei como, pois a mesma
não disse. Parei um pouco para ouvir a discussão e “Lela” dizia que isso não
ia ficar assim e que a próxima viatura que passasse denunciaria “Doca” aos homens e ele ia ver o sol
nascer quadrado. “Doca”, neste
momento, já estava “prá lá de Bagdá”, em razão da sua gula alcoólica e não mais respondia
os impropérios de “Lela”. Isso só
fazia aumentar a sua ira, e eis que de repente aponta, a uns duzentos metros, a
tão esperada viatura. E “Lela” a
esbravejar, e não adiantava nada os seus companheiros de copo pedirem para ela
se acalmar. A esta altura do campeonato
a platéia já somava umas dez pessoas, eu incluso. De repente, silencio total e
os papudinhos ficaram como em oração, diante da capela, enquanto a viatura
policial passava ao largo, para, logo em seguida, reiniciar o bate boca. Coisas
de papudinhos... E nós, que havíamos perdido o nosso tempo voltamos à nossa
caminhada.
Um Feliz Natal e um Ano Novo de muita sorte para todos!
Ps. Semana
que vem viajo para descansar uns dias e, pelo menos por uma semana, vocês, meus
queridos e pacientes leitores, vão se livrar dos meus artigos.
*PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado
em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de
Direito do Recife, Advogado e atualmente exerce o cargo de Procurador
Federal.
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