sábado, 20 de fevereiro de 2016

O CLUBE DOS 30

*Dr. Paulo Lima

Dizem que a pessoa está ficando velha quando começa a recordar as lembranças de anos atrás, com certo saudosismo e frequência. O fato é que, permitindo-me um chavão, a velhice é mais um estado da alma, pois conheço pessoas com 80, 90 anos, com o espírito de um jovem de 18, 20 anos. Vou logo avisando que essa estória de velhice não é comigo, pois, como se diz na nossa terrinha: “velhas são as estradas”, principalmente agora, depois das recentes chuvas, onde a falta de cuidado dos gestores se mostrou mais evidente. Cala-te boca… Mas, voltemos ao tema desses escritos.
Em meus tempos de criança havia, em Vertentes, um clube recreativo denominado de “Clube dos 30″. Chamava-se assim porque foi construído com “recursos próprios” (olha, aí, a palavrinha mágica) e mediante o esforço de trinta senhores de posse, moradores de nossa cidade, que pertencia ao antigo PSD, cujo primeiro Presidente, salvo engano foi o Dr. Emídio Cavalcanti, o primeiro Deputado Estadual de nossa cidade, clube que foi criado para recreação e divertimento dos habitantes. Havia também um outro,  que o conheci já desativado, localizado na antiga “Praça dos Coqueiros”, que, aliás, mudou de nome após a derrubada, pela prefeitura, dos últimos coqueiros que ali existiam, clube esse, cujo nome não lembrava e, graças a ajuda sempre providencial do meu amigo RENATO ALMEIDA, a memória viva de nossa cidade,  chamava-se  de Clube Recreio, fundado por pessoas ligadas  à UDN em 1953, de curta duração. Estas informações, evidentemente, me foram repassadas pelo mesmo.
Ainda lembro do último carnaval no Clube dos 30. Havia iniciado o meu aprendizado musical na centenária Banda Musical São José - um patrimônio vivo de nossa cidade, Vertentes - e, lá pelos idos de 1969, a cidade se preparando para o seu carnaval e a direção do Clube pretendia contratar os músicos, que seriam selecionados entre os integrantes da Banda. Ainda lembro que ensaiei algumas marchas carnavalescas, junto aos demais colegas veteranos, mas não fui selecionado para tocar na orquestra.  Naquele ano, “Mascara Negra”, uma composição de Zé Kéti e Hildebrando Matos, lançada em 1967, ainda era sucesso absoluto nas paradas musicais. Diferentemente de hoje, naqueles tempos, uma canção ficava vários anos sendo entoada pelo povão, mas creio que isto se deve em razão do primor dos autores, que se esmeravam na elaboração tanto da letra, como da música. Aquele foi o último carnaval do Clube dos 30.
Naquele ano, subi a Serra da Taquara com o meu colega músico GILVANDRO BARBOSA, que ainda hoje exerce este honroso mister e se encontra no comando daquela agremiação musical, e juntos tocamos no carnaval da “Dália da Serra”. O evento, embora Taquaritinga tivesse o seu Clube Serrano, ocorreu no então Mercado Público da cidade. Creio que a minha paixão por Taquaritinga do Norte nasceu aí, pois além de me apaixonar por sua beleza, fomos muito bem acolhidos e, ao término da folia de Momo descemos a serra, eu e GILVANDRO BARBOSA, com os bolsos estufados de dinheiro, graças ao nosso trabalho. Aliás, soubemos depois, que, como o carnaval no Clube dos 30 tinha sido um fracasso, os nossos colegas músicos da Banda Musical São José, somente receberam parte do seu cachê.
Dia desses, numa manhã de domingo, caminhando eu e o meu amigo IVALDO FIGUEIRÔA, companheiro de partido e de comunhão ideológica, pelas ruas de Vertentes, para assistir a posse dos Conselheiros Tutelares, fomos à Escola Municipal IVAN MÁRCIO BEZERRA CAVALCANTI, onde estava sendo realizada a solenidade. Soube então pelo mesmo, que, exatamente ali tinha funcionado o Clube dos 30.
Fiquei feliz e até aliviado com a notícia, já que, convenhamos, é bem melhor uma escola, que propicia educação às crianças e adolescentes de nossa cidade, do que uma dessas igrejas neopentecostais, que proliferam aos montes, tal qual o mosquito da chicungunya, criadas com a finalidade de tirar alguns trocados de fiéis incautos, como sói acontecer, que me perdoem os seus fiéis seguidores.

*DR.PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, ex Procurador Federal (aposentado) e advogado.

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