sexta-feira, 1 de maio de 2015

Um brasileiro chamado José

*Por Dr. Paulo Lima

Ele era uma pessoa simples, como tantos outros brasileiros e brasileiras que cruzam por nós, nas avenidas e estradas da vida.
Nasceu no século passado, nos idos de 1914, de família humilde e cheia de filhos, tal qual o vaqueiro sertanejo, imortalizado na voz do “Rei do Baião”, Luiz Gonzaga, aquele que tinha dez vaquinhas, uma mulher e dez filhos, a lhe esperar na casinha do sítio, ao entardecer, mas assim e por isto mesmo era feliz.
Já na infância perdeu o seu pai e, aos onze anos, teve que “pegar na enxada” para ajudar a sua mãe a criar os seus irmãos menores, órfãos como ele. Nunca frequentou a escola, por falta de oportunidade, mas nem por isso deixou de aprender a ler e escrever e a fazer as quatro operações aritméticas básicas. No caminho da roça onde ganhava os trocados, tinha uma escola rural, na qual José dava uma paradinha antes de “pegar na lida” e ficava debruçado sobre a janela, prestando atenção aos ensinamentos da professora e foi assim que se tornou alfabetizado. Gostava de ler em não perdia uma edição do “Repórter Esso”, o jornal radiofônico da chamada época de ouro do rádio.
Aqueles eram tempos difíceis, em que a educação para a maioria dos brasileiros era precária, por força das circunstâncias da época, onde somente os filhos e filhas de famílias bastadas de nossa terra, Vertentes, tinham a oportunidade de chegar à faculdade. Tivesse ele nascido em nosso tempo, certamente teria ido longe, com a sua inteligência e vontade de aprender e, claro, graças aos programas sociais e educacionais do Governo Federal, que estão provocando uma verdadeira revolução na educação do nosso País, reconheçamos, fruto da tenacidade de outro brasileiro, que, como ele é quase analfabeto, o Luiz Inácio da Silva e de uma brasileira, Dilma Roussef, que bem poderia se chamar Dilma da Silva, fosse filha de um brasileiro, como José.
Casou cedo e, como o seu pai, teve uma família numerosa de onze filhos – um a mais que o vaqueiro Canção – mas nem por isso deixou que lhes faltasse o básico ou a educação. É certo que tinha algumas posições políticas um tanto equivocadas, já que era eleitor fiel da antiga UDN e acreditava que os militares tinham salvado o Brasil das garras de Fidel Castro e dos comunistas cubanos, com a revolução de 1964, vejam vocês. É que naqueles tempos a informação era precária, os meios de comunicação eram tendenciosos – é claro que isso não mudou na atualidade, e a Rede Globo está aí para ratificar o que digo – e até o padre nos sermões da missa dominical, vez por outra, insinuava que comunista comia criancinha e pedia a Deus para livrar o nosso País do perigo comunista, amém! Como visto, a Igreja também cometeu os seus pecados, mas, deixa prá lá…
José nunca aceitou que, na realidade, aquele golpe que colocou o nosso País nas trevas por mais de vinte anos foi uma trama da UDN, um partido golpista da época, que se aliou aos militares, com o patrocínio dos Estados Unidos, para apear do poder JOÃO GOULART, o Presidente Constitucionalista e legitimamente eleito pelo voto dos brasileiros de então, tudo numa tentativa de chegar ao poder, por vias transversas e deu no que deu. Mas, como costumo dizer, todos temos os nossos defeitos e cometemos equívocos, como seres humanos que somos e, claro, não poderia ser diferente com José.
Mas José era um homem admirável sobremaneira, em razão de suas convicções – as quais defendia com unhas e dentes – e em razão do cultivo intransigente a um valor inestimável, a honestidade. Ele era, no dizer popular, uma pessoa que tinha vergonha na cara!
A vocês, que tiveram a paciência de me acompanhar nestas reminiscências, lendo estas mal traçadas linhas, gostaria de finalizar, informando que acabei de redigir o “Curriculum Vitae” de José Olegário da Silva, o meu falecido avô, um brasileiro chamado José.


*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente exerce o cargo de Procurador Federal.

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