*Dr. Paulo Lima
Semana que
passou sentei para conversar com meus velhos amigos (a amizade é que é velha, não os amigos) Ivaldo Figueirôa e Renato
Almeida, como sempre fazemos, uma ou duas vezes por mês. É sempre bom conversar
com amigos, pois os mesmos têm muito a nos oferecer, além de uma amizade
sincera, que, para mim, vale mais que um cartão "Ourocard". Somente quem tem o prazer de desfrutar de momentos
e conversas francas com amigos sabe o seu valor. Não lembro porque, mas, entre
uma conversa e outra, acompanhada de um bom gole de bebida, findamos por voltar
a um passado não muito recente e recordar fatos, dentre eles os cigarros que
eram comercializados nas mercearias de nossa terrinha, Vertentes, por volta dos
anos 50, 60 e por aí vai... Gostaria de deixar registrado, que, daqui em diante, o meu aperitivo
será um copo d água e tenho certeza que as conversas com meus amigos serão tão
ou mais animadas. Feito o registro, voltemos ao assunto.
Pois bem,
entre uma conversa e outra começamos a falar de cigarros e lá veio uma lista
interminável de marcas que eram comercializadas naqueles tempos. Não sei por que, lembrei logo dos cigarros "Astoria".
Creio que por causa do seu nome, charmoso, pois não lembro se cheguei a fumar
esse tipo de cigarro, mesmo porque, quando começou a ser comercializado, por
volta de 1952, ainda nem era nascido! Renato Almeida, com a sua memória
extraordinária, lembrou logo de uma série de nomes de marcas daquela época, a
exemplo de "Hollywood" - 1959 (salvo engano e, infelizmente, ainda é comercializado); "Continental"
-
esta era a marca preferida de minha mãe, fumante inveterada - comercializado a partir de 1956, nas versões com filtro e sem filtro.
Ela fumava a marca sem filtro e creio que o motivo era o teor mais forte do
alcatrão e da nicotina. Graças a Deus há vários anos ela deixou o vício de
fumar. O meu avô, José Olegário, pai de
minha mãe, não conseguiu este feito, apesar de várias tentativas e morreu de
enfisema pulmonar, sem conseguir respirar, pois seus pulmões foram endurecidos
pela ação da nicotina, coitado...
Outras marcas
eram comercializadas naqueles tempos, denominados de anos dourados, a exemplo
dos cigarros "Turcos" (1953), "Lincoln" (1956) e "Luiz
XV" (1957), dentre outros.
Não lembro se o Dr. Ivaldo Figueirôa citou alguma dessas marcas. Creio
que não, por certo porque nunca deve ter fumado. Também não perguntei se Renato
Almeida fumou algum tempo em sua juventude. Eu sim creio que comecei a fumar
por volta de 1972, não lembro direito. O que sei é que a minha carreira de
fumante durou pouco e fui salvo por conta de uma broncopneumonia, aos quatorze
anos, enfermidade que quase me leva para o lado de lá. Hoje estou aqui contando
a estória, certamente porque, fazendo jus ao ditado popular: "vazo
ruim não quebra!" É
interessante como a cultura de um povo pode mudar ao longo dos anos. Naquela
época, as crianças adoravam colecionar carteiras de cigarros vazias, que eram
achadas facilmente nas calçadas e ruas de nossa terrinha. Não posso afirmar,
se, por conta desse hobby inocente algumas delas viraram fumantes. O que sei é
que a maioria dos jovens de nossa época se tornaram dependentes químicos do
cigarro e da bebida, graças à propaganda criminosa que era divulgada nas emissoras
de rádio, no cinema e, posteriormente, na TV. O que sei e tenho certeza é que
muitos morreram por causa desses vícios e, atualmente, graças à ação dos
agentes públicos, através do rígido controle da propaganda, proibida nas
emissoras de rádio, televisões e até no cinema, está havendo uma gradativa
diminuição no consumo de cigarros pela população brasileira.
A certa altura
da conversa, lembrei ainda de outra marca de cigarro, "Gaivota". Não
sei ao certo o ano em que ele foi lançado, talvez por volta de 1970. O que sei
é que era a marca favorita de Adolfo Areia. Ele era um músico extraordinário e
veio da vizinha cidade de Toritama para ensinar música na nossa centenária "Banda
Musical São José", de Vertentes. Sei também que nenhum de nós (quase todos fumávamos na época) se
atrevia a fumar um daqueles cigarros, pois na primeira tragada engasgávamos... Soube
a algum tempo que ele havia falecido, mas não sei qual foi à causa de sua morte.
Também não sei se ainda fumava, mas se fumava, por certo não era mais aquela
marca de cigarro, "forte de lascar os peitos", como diz o matuto.
Lembro que ele também gostava de tomar uma ou duas doses de cachaça, no máximo,
antes do almoço. Bebia socialmente.
Eu, jovem, me
iniciei cedo na bebida, pouco tempo depois de começar a fumar, o que fiz
durante todos esses anos e aqui quero deixar registrado, que, muito mais grave
que o vício do fumo é o vício da bebida. No entanto, o que vemos é a livre
propaganda e comercialização de bebidas alcoólicas, inclusive para jovens - apesar de
haver expressa proibição legal - e deveria ser
alvo de uma campanha maciça do governo federal, para conscientizar a população dos
seus efeitos maléficos, pois o que vemos é, cada dia mais cedo, jovens serem
iniciados nesse vício, que certamente ainda destruirá muitas vidas. É uma pena...
*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia
pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do
Recife, ex-Procurador Federal, e atualmente exerce a advocacia.
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