Sempre que
termino de escrever um artigo, ou melhor, uma crônica, para usar o termo
apropriado, muito embora não seja nem me
considere um cronista, mas, quando muito um enxerido, fico a matutar com os
meus botões se terei inspiração para escrever outro, na semana seguinte. É que,
para quem não tem o dom da escrita, como eu, escrever muitas vezes se torna uma
atividade quase penosa. O que me motiva a continuar escrevendo, confesso, é a
satisfação de, logo após, ler o texto e chegar à conclusão de que escrevi
alguma coisa que preste e, vez por outra, sentir que alguém leu até o final os
meus escritos, mesmo que não concorde com o meu pensamento. É deveras
gratificante, confesso, mas não é tarefa fácil. Mesmo assim, teimoso que sou
vou continuar a rabiscar palavras, não sei ao certo até quando...
Esta semana
mesmo (hoje é domingo) pensava que a
sexta feira viria em branco, para decepção de algum de vocês, que lê o que
escrevo, mas basta abrir um jornal, uma revista, ou mesmo entrar no mundo
virtual da internet e lá vem uma enxurrada de fatos, que me incentivam a correr
para o computador e escrever alguma coisa. E antes que algum de vocês
interrompa a leitura para perguntar aos seus botões aonde quero chegar com esta
tergiversação toda, vou ao ponto.
Comecei a
estudar Direito no ano de 1980 e desde que subi os degraus da Casa de Tobias
Barreto pela vez primeira aprendi que ele, o Direito, é alicerçado em
princípios, os quais, por seu turno, fazem nascer às leis, as constituições,
enfim, as normas que disciplinam a convivência em sociedade. Dentre eles
sobressaem-se o princípio da legalidade, moralidade e impessoalidade. No
entanto, costumo dizer que nenhum deles é mais importante que o princípio da
razoabilidade, este sim, muito embora não conste da Lei, nem tampouco da Constituição
Federal é, ao meu sentir, a verdadeira pedra que sustenta os demais princípios
que regem a nossa convivência em sociedade! No entanto, nestes últimos dias
assisto, com tristeza, ao crescimento de um outro princípio, o da intolerância - e nem sei se deveria ser chamado assim -
já que a intolerância não serve para nada, a não ser para disseminar o
ódio! Mas, infelizmente, está se
tornando princípio. É intolerância para tudo o quanto é lado: de cor, de raça,
credo religioso, opção sexual, política, nacionalidade, e por aí vai. Querem
ver um exemplo?
Esta semana,
soube pelas redes sociais que o Prefeito de São Paulo, FERNANDO HADDAD e o
ex-Senador da República EDUARDO SUPLICY, foram hostilizados e ofendidos em
evento na Livraria Cultura, em São Paulo, onde foram participar de sabatina
acerca da mobilidade urbana, naquela Capital. Os manifestantes, que se sentem
cidadãos de primeira classe e, por isto mesmo, no direito de agredir as pessoas,
certamente por terem votado em AÉCIO NEVES, ou em algum outro representante da
direita de nosso País, somente não chegaram às vias de fato, agredindo
fisicamente os dois palestrantes, dentre os quais um senhor de 74 anos - refiro-me a EDUARDO SUPLICY, atualmente
Secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo - porque foram
impedidos pelos funcionários da Livraria Cultura. “A certa altura uma senhora,
com a espuma escorrendo pelo canto da boca, gritava a todos os pulmões: “Aqui é
a terra dos Coxinhas”; Aqui é a terra de pessoas trabalhadoras; Vai prá Cuba,
vagabundo; Petralhas ladrões”; dentre outros adjetivos, sendo
acompanhada pelos demais. E sabem contra
quem ela gritava e destilava o seu ódio? Contra um jovem funcionário da
Livraria, um trabalhador honesto que não
deve ganhar mais que um salário mínimo, que a tinha impedido de se aproximar fisicamente
do Ex-Senador EDUARDO SUPLICY. Vejam vocês, até onde vai o ódio dessas pessoas.
A que se deve tanto ódio e tanta intolerância, afinal?
A pergunta é
pertinente, porque sabemos que ladrões do dinheiro público existem aos montes,
em todos os partidos e, ao que eu saiba, nem EDUARDO SUPLICY, nem FERNANDO HADDAD,
homens probos estão sendo acusados de ladrões do dinheiro público, a não ser
por essa meia dúzia de fascistas, que teimam em não aceitar a derrota nas
urnas. Não é o caso, porém, de tantos outros (políticos principalmente) e os fatos recentes (a famosa "Operação Lava
Jato", a "Operação
Zelotes", o "Escândalo de
Furnas", dentre outros) não nos deixam mentir. No entanto,
tornou-se uma constante nas classes sociais mais abastadas e, reconheço, até em
algumas camadas menos favorecidas e mais desinformadas, esse ódio e essa
intolerância contra políticos do Partido dos Trabalhadores, a ponto de um
conhecido nosso, que não vou declinar o nome, por razões óbvias, não mais
querer disputar um cargo eletivo de vereador pelo PT, já que acredita que não
seria eleito... Fatos desta natureza, lamentáveis, me fazem perguntar aos meus
botões: será que estamos fadados a conviver, doravante, com o princípio da
intolerância, como regra cogente? E eles, como sempre, permanecem calados...
*DR.PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela
Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife,
ex-Procurador Federal, e atualmente exerce a advocacia.
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