*Dr. Paulo
Lima
O vigente regime democrático nos países
modernos, como o conhecemos, teve origem na Grécia antiga e foi aperfeiçoado no
Império Romano. Mais adiante, na Inglaterra, tivemos o primeiro embrião do que
seria a Carta Magna ou, mais propriamente, a constituição moderna, como se conhece
atualmente. Todo regime democrático, portanto, é fincado em três pilares, ou
mais propriamente, três poderes – legislativo, executivo e judiciário – que,
embora independentes se harmonizem entre si, num mesmo patamar, sobre os quais
uma sociedade se sustenta.
No sistema
político imperial brasileiro, mais propriamente, no Primeiro Império, além dos três
poderes havia um quarto poder, chamado de Poder Moderador, que era exercido
pelo Imperador. Com a proclamação da República, este quarto poder desapareceu,
evidentemente. No entanto, nos dias atuais ouso afirmar que está se
sobressaindo um quarto poder, que, embora não previsto constitucionalmente,
tende a desequilibrar esse alicerce constitucional. Refiro-me a imprensa.
Explico.
Sabemos nós
que este instrumento de informação é de fundamental importância numa sociedade
dita democrática, pois alimenta o cidadão com informações necessárias ao
exercício de sua cidadania. No entanto,
nos dias atuais, no nosso País, a imprensa está solapando esta harmonia que
deve reinar entre os Poderes da República a ponto de provocar, vez por outra,
uma ruptura institucional, dando ensejo a golpes de estado, vindo até a
derrubar governos democráticos. Não é nenhum exagero dizer que a imprensa teve
grande responsabilidade nos sucessivos golpes de estado que eclodiram em nosso
Continente, em meados do século passado, dando origem a sangrentas ditaduras
nos chamados países do Cone Sul, o Brasil incluído, logicamente, com o apoio
dos Estados Unidos, como todos sabemos.
Até então
tínhamos nos Jornais e nos rádios a principal forma de comunicação. Com o
surgimento da TV, a imprensa ganhou amplitude significativa e começou a
influenciar decisivamente na forma de pensar do povo. Foi, portanto, no período
ditatorial que começaram a ser criados os grandes conglomerados de empresas de
comunicação - a quase totalidade delas servindo aos interesses do autoritarismo
então instalado em nosso País - a partir de 1º de abril de 1964. Com a volta da
redemocratização, nos idos de 1985, este poder, que já se assemelhava a um
leviatã continuou a se expandir, através da concessão desenfreada de rádios e
TV´s a políticos e famílias de empresários, que já detinha até então parcela
considerável dos jornais e das emissoras de rádio. Com a promulgação da vigente
Constituição Federal, em 1988, bem que se tentou impor um freio a essa
anomalia, através de uma cláusula proibitiva de criação de monopólios nos meios
de comunicação. Da mesma forma, o vigente Texto Constitucional vetou a outorga
de concessão de serviços públicos a políticos (as emissoras de comunicação são
concessões de serviços públicos) e, como se sabe, o que mais existe em nosso
País é político dono de emissora de rádio e de televisão, além das famílias dos
chamados “barões das comunicações”, a exemplo da família Marinho, dona da Rede
Globo, Sílvio Santos, dono do SBT, até o bispo Edir Macedo, que é dono da Rede
Record, dentre outros.
Esta anomalia
inconstitucional tem causado prejuízos à democracia, posto que esses
oligopólios influenciam de forma negativa no direito de informação das pessoas,
através da distorção dos fatos e manipulação da verdade, com tamanho poder
capaz de sobrepujar e prejudicar a harmonia que deve existir entre os poderes
que sustentam o Estado Democrático de Direito. Isto é fato.
Faz-se
imperativo, portanto, que se dê um basta a este estado de coisas, reinante em
nossa sociedade, e não vejo outra saída se não através de uma posição firme do
Estado, com a devida regulamentação dos meios de comunicação, através de uma
legislação que se faça eficaz. Caso contrário a nossa democracia poderá
sucumbir ante este quarto poder, que se encontra instalado e enraizado em nosso
vigente sistema democrático.
O mais triste,
no entanto, é que toda expectativa em torno da edição e promulgação de uma lei
dando um basta a este estado de coisas foi por água abaixo, com a eleição do
famigerado EDUARDO CUNHA para a Presidência da Câmara Federal, pois certamente
enterrará por alguns anos essa necessidade de equilibrar os meios de
comunicação, entre público, privado e estatal, conforme previsto
constitucionalmente, já que, certamente, qualquer alteração legislativa neste
sentido, não passará pelas portas do seu gabinete. É uma pena.
*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em
Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de
Direito do Recife, advogado, e atualmente exerce o cargo de Procurador Federal.
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