*Dr.
Paulo Lima
Ocorreu um fato curioso, tempos
atrás, com a vinda da Presidente Dilma a Serra Talhada, para inaugurar parte da
Adutora do Pajeú, obra que, quando ficar totalmente concluída beneficiará mais
de quatrocentos mil sertanejos e sertanejas. Não sei se algum de vocês, que
costuma ler minhas mal traçadas linhas lembra. Creio que não, devido ao tempo
transcorrido e por isso mesmo vou reprisá-lo neste artigo.
Pois bem, não cabe aqui
discutir a grandeza desta obra hídrica e os benefícios que trará para grande
parte da população de nosso Estado, mormente pela seca que estamos atravessando.
O fato que me chamou a atenção, no entanto, foi uma faixa colocada na entrada
da cidade e reproduzida pela reportagem do Diário de Pernambuco na época. Dizia
o seguinte: “Presidente Dilma, Serra
Talhada sente-se honrada com sua visita! Aqui temos gratidão e lealdade ao
seu governo.” E fiquei a matutar e perguntar aos meus botões: a quem
estaria sendo dirigido o recado? Nas
semanas que se seguiram vieram as respostas.
É que vimos vários exemplos de
políticos com práticas pecaminosas, tentando confundir a população, misturando
a sua administração com ações por eles praticadas ao vivo e a cores. Refiro-me,
por exemplo, a distribuição de peixes na Semana Santa, onde alguns desses
senhores comandam pessoalmente a distribuição do peixe com a população carente,
como se fosse uma iniciativa sua e não da administração, num conluio pecaminoso
do público com o privado. Ora senhores, façam-me um favor! Onde
já se viu cobrar gratidão e lealdade a um governo?
É evidente que um governante,
seja ele quem for, é eleito para trabalhar em prol de uma coletividade e, deste
modo, não se pode cobrar gratidão das ações que ele realiza, seja numa cidade,
num Estado ou no Brasil, pois não está fazendo mais que sua obrigação legal e
administrativa, já que para tanto foi eleito! Gratidão e lealdade
devemos aos nossos pais, amigos, cônjuges e, eventualmente, aquele que nos faz
um favor ou benefício sem obrigação para tanto! A um governo ou administração,
quando muito, devemos o reconhecimento pelas obras e realizações! Nada além!
É certo que alguns políticos,
na maioria das vezes, sentem-se como se fossem donos de sua administração,
esquecendo-se que foram eleitos justamente para servir ao povo. Aqui mesmo,
pertinho de nós, temos exemplos às escâncaras. Lembremo-nos que esse tempo já
passou, há muito, e somente na Roma dos Imperadores é que se cobrava à plebe, gratidão
e lealdade aos governantes. Hoje, não. Atualmente o cidadão deve cobrar do
administrador público ações efetivas para o seu bem-estar e da coletividade,
sem dever nada em troca!
Em verdade, estas cobranças
enviesadas nada mais são que uma prova do apego que alguns partidos políticos e
mesmo alguns políticos têm aos cargos que exercem, a ponto de pensarem que são
donos da cidade, do Estado, ou do País que administram, como se tivessem sido
eleitos por Deus, para governar por uma eternidade e não pelo povo, para o
exercício de um mandato breve.
É por estas e outras que não
concordo e nunca concordei com o instituto da reeleição e espero que a reforma
política expurgue este instituto, para que a alternância no poder se faça como
uma prática cada vez mais benéfica para a democracia. O primeiro passo já foi
dado, com a votação na Câmara e espero que seja confirmada no Senado.
Tudo o mais não passa de
resquícios de um autoritarismo teocrático que não se coaduna com a democracia,
nem tampouco com os dias atuais. Espero o torço para que o povo, a cada dia,
abra mais os olhos.
*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade
Católica, Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, ex-Procurador
Federal e atualmente exerce a advocacia.
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