Dizem que a pessoa
está ficando velha quando começa a recordar as lembranças de anos atrás, com
certo saudosismo e frequência. O fato é que, permitindo-me um chavão, a velhice
é mais um estado da alma, pois conheço pessoas com 80, 90 anos, com o espírito
de um jovem de 18, 20 anos. Vou logo avisando que essa estória de velhice não é
comigo, pois, como se diz na nossa terrinha: “velhas são as estradas”, principalmente
agora, depois das recentes chuvas, onde a falta de cuidado dos gestores se
mostrou mais evidente. Cala-te boca… Mas, voltemos ao tema desses escritos.
Em meus tempos de
criança havia, em Vertentes, um clube recreativo denominado de “Clube dos 30″.
Chamava-se assim porque foi construído com “recursos próprios” (olha, aí, a palavrinha
mágica) e mediante o esforço de trinta senhores de posse, moradores de nossa
cidade, que pertencia ao antigo PSD, cujo primeiro Presidente, salvo engano foi
o Dr. Emídio Cavalcanti, o primeiro Deputado Estadual de nossa cidade, clube
que foi criado para recreação e divertimento dos habitantes. Havia também um
outro, que o conheci já desativado,
localizado na antiga “Praça dos Coqueiros”, que, aliás, mudou de nome após a
derrubada, pela prefeitura, dos últimos coqueiros que ali existiam, clube esse,
cujo nome não lembrava e, graças a ajuda sempre providencial do meu amigo
RENATO ALMEIDA, a memória viva de nossa cidade,
chamava-se de Clube Recreio,
fundado por pessoas ligadas à UDN em
1953, de curta duração. Estas informações, evidentemente, me foram repassadas
pelo mesmo.
Ainda lembro do último
carnaval no Clube dos 30. Havia iniciado o meu aprendizado musical na
centenária Banda Musical São José - um patrimônio vivo de nossa cidade,
Vertentes - e, lá pelos idos de 1969, a cidade se preparando para o seu
carnaval e a direção do Clube pretendia contratar os músicos, que seriam
selecionados entre os integrantes da Banda. Ainda lembro que ensaiei algumas
marchas carnavalescas, junto aos demais colegas veteranos, mas não fui
selecionado para tocar na orquestra.
Naquele ano, “Mascara Negra”, uma composição de Zé Kéti e Hildebrando
Matos, lançada em 1967, ainda era sucesso absoluto nas paradas musicais.
Diferentemente de hoje, naqueles tempos, uma canção ficava vários anos sendo
entoada pelo povão, mas creio que isto se deve em razão do primor dos autores,
que se esmeravam na elaboração tanto da letra, como da música. Aquele foi o
último carnaval do Clube dos 30.
Naquele ano, subi a
Serra da Taquara com o meu colega músico GILVANDRO BARBOSA, que ainda hoje
exerce este honroso mister e se encontra no comando daquela agremiação musical,
e juntos tocamos no carnaval da “Dália da Serra”. O evento, embora Taquaritinga
tivesse o seu Clube Serrano, ocorreu no então Mercado Público da cidade. Creio
que a minha paixão por Taquaritinga do Norte nasceu aí, pois além de me
apaixonar por sua beleza, fomos muito bem acolhidos e, ao término da folia de
Momo descemos a serra, eu e GILVANDRO BARBOSA, com os bolsos estufados de
dinheiro, graças ao nosso trabalho. Aliás, soubemos depois, que, como o
carnaval no Clube dos 30 tinha sido um fracasso, os nossos colegas músicos da
Banda Musical São José, somente receberam parte do seu cachê.
Dia desses, numa manhã
de domingo, caminhando eu e o meu amigo IVALDO FIGUEIRÔA, companheiro de
partido e de comunhão ideológica, pelas ruas de Vertentes, para assistir a
posse dos Conselheiros Tutelares, fomos à Escola Municipal IVAN MÁRCIO BEZERRA
CAVALCANTI, onde estava sendo realizada a solenidade. Soube então pelo mesmo,
que, exatamente ali tinha funcionado o Clube dos 30.
Fiquei feliz e até
aliviado com a notícia, já que, convenhamos, é bem melhor uma escola, que
propicia educação às crianças e adolescentes de nossa cidade, do que uma dessas
igrejas neopentecostais, que proliferam aos montes, tal qual o mosquito da
chicungunya, criadas com a finalidade de tirar alguns trocados de fiéis
incautos, como sói acontecer, que me perdoem os seus fiéis seguidores.
*DR.PAULO ROBERTO DE
LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito
pela Faculdade de Direito do Recife, ex Procurador Federal (aposentado) e
advogado.
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