*Dr.
Paulo Lima
Uma foto que ganhou o mundo
esta semana e que não me sai da cabeça, mostrou a face desnuda e cruel da
infância vivida por algumas de nossas crianças. Refiro-me aquela foto que foi
publicada em reportagem de domingo, pelo “JORNAL DO COMMERCIO”, na qual
mostra uma criança mergulhada até o pescoço no canal do Arruda, no Recife, no
meio a um rio de lixo, fezes, restos de animais mortos e outros dejetos.
E o que estava fazendo o
menino, nadando com dificuldade dentro daquele canal infecto? A reportagem
trouxe de imediato a resposta: catando latinhas de alumínio para vender a
apurar uns trocados para levar para casa para comprar comida.
O mais interessante é que, tão
logo a matéria ganhou o mundo, cuidaram os poderes públicos de adotar
providências. Veio a Prefeitura e já cadastrou as famílias – inclusive a da criança – no bolsa família e já se fala em
revitalização do canal do arruda, com o consequente deslocamento daquelas
famílias para um dos conjuntos habitacionais que estão sendo construídos pela
prefeitura na periferia. O mais irônico de tudo isto, no entanto, é que, se o
repórter não tivesse tido a argúcia de captar nas lentes de sua máquina
fotográfica aquela imagem, talvez o mundo nunca tomasse conhecimento dessa
realidade que é vivenciada diuturnamente por tantas outras crianças mergulhadas
no lixo!
É uma realidade com a qual nos
deparamos todos os dias, não somente na cidade grande, mas também nas cidades
do interior de nosso Estado e que, muitas vezes fingimos não ver. Aqui,
diferentemente, não temos canais entulhados de lixo com crianças nadando dentro
deles. O Capibaribe e seus afluentes vivem secos a maior parte do ano. No
entanto temos os lixões, aqui mesmo, pertinho de nós, onde famílias inteiras
tentam tirar o seu sustento e nos quais se vêm crianças, lado a lado com
urubus, revolvendo montanhas de lixo, ajudando os seus pais a catar latinhas de
alumínios e outros objetos para vender.
É o retrato cruel de uma
infância perdida, que muitas vezes passa despercebida diante de nossos olhos,
por conta da nossa indiferença e por força da insensibilidade e da ganância dos
donos do poder, que, ao invés de traçarem políticas de inclusão social,
priorizando os menos favorecidos, com escolas em tempo integral e merenda de
boa qualidade, preferem dar prioridade à construção de calçamentos e outras
obras congêneres, pois certamente terão o retorno certo, através do recebimento
da propina resultante do superfaturamento da obra, que os ajudará a ficarem
cada vez mais ricos.
E as crianças? Ora senhores,
crianças não votam - diriam eles - e
no dia da eleição é só dar alguns trocados aos seus pais e certamente o
candidato da continuidade vai ser eleito para o bem dos seus bolsos.
É assim que a banda toca. Quem
se importa? Um abraço a todos.
*PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade
Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente
exerce o cargo de Procurador Federal.
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