Dia desses, fui
contraditado numa de minhas postagens que costumo fazer no Facebook, por um dos meus primos, Paulo Henrique, pessoa a quem
admiro por sua inteligência e perspicácia, muito embora divirja de suas
posições políticas. Mas é justamente aí, na divergência, que se aprimora o
debate e, sinceramente, gosto quando sou contraditado com argumentos consistentes,
como só acontecer quando ele entra no debate. Tudo começou porque fiz uma
postagem criticando algumas pessoas pobres, que estariam aplaudindo o ato de
EDUARDO CUNHA (com perdão da má palavra) por
ter deflagrado o processo de impeachment da Presidente do Brasil, quando, a
certa altura ele me contestou, alertando que os aplausos não partiriam de
pobres ou de ricos, mas dos cidadãos indignados com a corrupção, que, nos
últimos tempos foi descortinada e levada ao conhecimento de todos os
brasileiros. Instigou-me ainda a superar
esta posição dicotômica entre esquerda e direita - casa grande e senzala -
como se tal não existisse, ou fosse coisa de um passado há muito deixado para
trás.
Fiquei a
matutar acerca do que ele escreveu, confesso, e depois de refletir bastante não
consegui superar a minha posição. Os pensamentos começaram então a viajar no
tempo e voltei ao meu tempo de criança, em minha cidade, Vertentes, onde, muito
embora não houvesse ricos, havia classes sociais distintas e, dentro delas,
famílias tradicionais que eram denominadas de ricas e outras, que, embora
também de tradição e respeito, como as famílias dos meus avôs, paternos e
maternos, dentre outras, estariam inseridas na segunda classificação, ou seja,
de famílias pobres. Seguindo a caminhada nesta estrada do tempo me vejo, agora,
na minha adolescência e juventude e as lembranças continuaram a chegar fortes e
acompanhadas da mesma sensação de que permanecia esta separação entre as
classes sociais na minha cidade. As informações naqueles tempos eram um tanto
difusas, mas mesmo assim comecei a enxergar, que, além de Vertentes havia um País
chamado Brasil, onde os pobres e miseráveis eram infinitamente superiores aos
ricos, senhores donos da casa grande e esta situação não poderia continuar. Daí
me filiei ao antigo MDB, partido que se dizia de esquerda, pois o outro, a ARENA,
era o partido da situação e dos militares e comecei daí a minha tímida
militância política. Nessa época já havia conhecido e me tornado fã de um
vertentense "arretado", JOSÉ OTO DE OLIVEIRA - conhecido
por muitos de nossa cidade e por muitos evitado, por ser considerado subversivo
- e sempre que ele vinha a Vertentes corria para ouvi-lo.
Um sujeito brilhante! Creio que foi daí, dessas conversas, que abri os olhos
para esta separação de classes sociais que havia não somente em Vertentes, mas
no nosso País.
E isto foi
melhor vivenciado por mim, quando terminei o ginasial e tentei cursar o chamado
curso científico na vizinha cidade de Surubim. As dificuldades econômicas se
tornaram quase intransponíveis, a começar pelo transporte, já que na época nem
se falava em transporte escolar público para as crianças, muito menos para os
jovens que quisessem estudar noutra cidade. Hoje a realidade é outra... Portanto,
não era fácil, naquela época, um jovem pobre conseguir concluir o segundo grau.
Chegar à faculdade, nem pensar e eu não me conformava com esse estado de
coisas!
Comecei,
então, a ver que essa injustiça social, que há muito estava enraizada no seio
de nossa sociedade, tinha raízes históricas, fincadas a partir das chamadas
capitanias hereditárias e não iria terminar tão cedo, a não ser pela educação do
povo e por uma melhor distribuição de renda, o que não seria fácil. Mas,
voltemos aos dias atuais.
É certo que
nos últimos doze anos houve avanços sociais significativos em nosso país, a
começar pela melhoria considerável da educação, com o amplo acesso de jovens
pobres à universidade, bem como a diminuição da pobreza, com a implantação de
programas de indiscutível valor social. Mas, indagando aos meus botões se
atualmente ainda permanece esta dicotomia entre pobres e ricos, em nosso País,
eles teimam em me responder afirmativamente! Possivelmente, este é um dos
motivos que me faça sentir orgulho de ter votado em DILMA ROUSSEF, pois, creio,
se a casa grande permitir, ela ainda vai dar a sua parcela de contribuição para
que esta mesma casa grande, embora inconformada, ceda um pouco do seu espaço
para a nossa senzala "se achegar",
como diz o matuto. Vamos acreditar!
Abraços a
todos.
*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em
Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de
Direito do Recife, ex-Procurador Federal, e atualmente exerce a advocacia.
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