Ariano Suassuna, esse paraibano "arretado",
mestre do Movimento Armorial, que deu uma nova feição à cultura nordestina
misturando o erudito ao popular, nas artes, no teatro, na literatura e na nossa
música proferiu, certa feita, a seguinte frase: "O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Prefiro ser
um realista esperançoso.” Confesso, que, no mais
das vezes me enquadro na primeira afirmativa do mestre e, reconheço, carrego em
mim esse "pecado venial",
principalmente quando se trata de nossa juventude. É que, não obstante as notícias divulgadas
diuturnamente por parte da imprensa, com relatos de violência, drogas e assassinatos
envolvendo os nossos jovens, ainda acredito que o Brasil é um País de futuro! E porque ouso fazer esta afirmação, perguntaria
algum de vocês, que me lê neste momento? Respondo, comentando o fato a seguir descrito.
Esta semana o Conselho de Desenvolvimento Urbano da Cidade do Recife - órgão cuja finalidade seria (seria, frise-se
bem), o debate e o acompanhamento das
políticas públicas relativas ao espaço urbano, priorizando a qualidade de vida
na capital pernambucana - aprovou o
chamado "Projeto Novo Recife", uma arrojada e milionária empreitada
imobiliária que prioriza a construção de torres (prédios residenciais e comerciais) ao largo do Cais José Estelita,
no bairro de São José, no Recife, onde antes funcionavam galpões de
armazenamento do açúcar produzido em nosso Estado, de propriedade da RFFSA -
Rede Ferroviária Federal - SA, bem como antigas estações ferroviárias e a
segunda linha de trem mais antiga do Brasil, um verdadeiro patrimônio histórico
e urbanístico do Recife. Desde o início do empreendimento imobiliário que se
discute várias irregularidades, inclusive suspeita de fraude no leilão, por subfaturamento
na aquisição do terreno, pelo consórcio, com prejuízos aos cofres públicos no
valor de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) e que está sendo alvo de
investigação da Polícia Federal, cuja operação tem o sugestivo nome de "Lance
Final", além de cinco ações que se encontram em tramitação na
justiça e que questionam a legalidade do projeto.
Pois bem, no pretérito ano de 2014, mais precisamente na noite do dia
21 de junho, o Consórcio Novo Recife deu início, na calada da noite, à
derrubada dos galpões para começar a edificação do empreendimento imobiliário,
antes mesmo de haver a conclusão do processo administrativo em tramitação na
Prefeitura do Recife, mas não contava com a reação da sociedade. Nessa mesma
noite o integrante do Movimento Direitos Urbanos, Sergio Urt, que
flagrou a ilegalidade - e depois de exigir a apresentação
do alvará de demolição foi espancado pelos seguranças da construtora Moura
Dubeux - fez uma convocação à sociedade e aos jovens, mobilizando
mais de 200 pessoas (a maioria jovens
entre 15/25 anos) e que, juntas, conseguiram interromper a demolição, dando
início ao movimento "Ocupe Estelita".
Desde então esses jovens, que normalmente deveriam estar
discutindo questões próprias de sua idade, tais como roupas e tênis de grife, lançamentos
musicais e coreografias de lançamentos musicais de gosto duvidoso, estão
envolvidos neste movimento a ponto de, nesta semana, se acorrentarem ao prédio
da Prefeitura do Recife numa tentativa quixotesca de impedir que o famigerado
projeto fosse aprovado pela municipalidade. Tudo em vão. Mas a guerra não está perdida, é bom
registrar.
E o que pretendem esses jovens? Apenas uma cidade melhor e mais
humanizada para os filhos do Recife, tudo para que a cidade dos rios e das
pontes, cantada em verso e prosa pelos nossos poetas, não se transforme na
cidade dos automóveis e da segregação social.
São gestos e atitudes como as que agora retrato nessas mal traçadas
linhas, que, pedindo vênia ao grande mestre Ariano Suassuna, me fazem ser um otimista inveterado e acreditar na juventude deste
nosso País! Para Ingá Maria, a minha "neta torta", é mais esta homenagem.
*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia
pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do
Recife, ex-Procurador Federal, e atualmente exerce a advocacia.
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