A população do
município de São João do Rio do Peixe, ficou surpresa na última terça-feira
(14) com a informação que o Padre
Francisco Batista de Sousa Neto (FOTO), decidiu abandonar o ministério
presbiteral e a administraçãp da Paróquia Nossa Senhora do Rosário em São João
do Rio do Peixe.
O anuncio foi feito
através de uma carta aberta que o próprio reverendo publicou. Na publicação,
ele diz que tomou esta decisão para viver um grande amor. “Um amor criado por
Deus vivenciado entre um homem e uma mulher”, declarou.
Em um dos trechos do
anúncio, o padre diz que foi um chamado do coração e que não suportava mais: “O
amor é amor quando existe reciprocidade e isso eu senti. Nada pode contra e
ninguém pode resistir ao amor. É o último grau de evolução”, afirmou ele.
Confira abaixo a carta
na íntegra!
"Venho, através
desta carta, expressar os meus sentimentos diante da minha escolha. De início,
oportuno anotar, que não interpretem estas palavras como justificativa, pois
não preciso apresentá-la, até porque a escolha é individual, pessoal e assim
como fiz livremente para ser padre posso também livremente deixar.
Deve-se entender que
cada um tem um limite de ação, que existe o livre arbítrio. Neste sentido,
desarmem-se de suas concepções religiosas preconceituosas, pois a vida é feita
de escolhas.
Após um longo processo
solitário de discernimento, decidi abandonar o ministério presbiteral e a
condição de administrador da Paróquia Nossa Senhora do Rosário em São João do
Rio do Peixe-PB.
Decidi viver um grande
amor. Um amor criado por Deus vivenciado entre um homem e uma mulher. Um amor
divinamente humano. Espero que compreendam que não estou fazendo uma troca,
pois o amor a Deus e ao seu Reino sempre estará em primeiro lugar na minha vida
e até porque o amor é onde Deus está, é o que Deus é e não é possível ir contra
isto.
Apenas quero ser
coerente e verdadeiro. Não vai de encontro aos meus princípios viver de forma
forjada a disciplina do celibato a qual prometi no dia da minha ordenação
viver. Não posso enganar a mim mesmo e ao Povo de Deus.
É inconteste que não
foi fácil o caminho de discernimento e tenho consciência que nem será o de
recomeçar, mas a vida é feita de escolhas e as escolhas fazem parte da vida
daqueles que são livres, como Deus nos criou. Para ser fiel a Deus e a si mesmo
é preciso mudar.
As decisões, são
sempre difíceis de serem tomadas, corremos o risco de sermos crucificados,
apedrejados, mas no fim, a misericórdia divina supera toda atitude de
preconceito e de não amor.
O certo é que não
podemos viver sempre em indecisões atrasando o futuro que nos espera e, mais
tarde, arrependidos de não termos feito o que deveríamos. Viver requer coragem.
E tem coisas que pulsam no coração em que nem mesmo a razão é capaz de
explicar.
O maior dom do ser
humano é a liberdade para fazer escolhas. Viver é uma sequência de escolhas
certas ou erradas com consequências positivas ou negativas para o envolvido e
os demais. Não há dúvida de que as escolhas são o principal fator determinante
da vida.
Confesso que não
estava prevista no meu projeto de vida esta mudança. Desde da tenra idade
cultivei o sonho de ser padre, em poder servir ao Povo de Deus, e assim me
dediquei a este legado com um longo tempo de preparação. Não me arrependo se
quer uma fração de segundo, porque vivi intensamente a minha escolha. Nos quase
seis anos de ordenação presbiteral, sempre fui feliz, cada momento foi vivido
com amor exerci a minha missão com muita verdade e comprometimento.
Porém, nos últimos
anos despertou em meu ser a necessidade de concretizar algo de muito valor que
já tinha admiração na fase infanto-juvenil: a vida conjugal. Isso foi
despertado em mim e confesso que não foram as poucas vezes que tentei focar
minha vida naquilo que eu havia escolhido primeiro, mas chegou um tempo em que
a minha humanidade não suportava mais.
Alguns podem até
pensar que foi uma crise vocacional, sou sincero e convicto ao dizer que não,
porque se fosse para continuar sendo padre e ao mesmo tempo constituir uma
família pra mim nada mudaria. Compreendo que o celibato é uma disciplina da
Igreja e que deve ser observado por aqueles que livremente escolhe esta
vocação.
No início do meu
ministério até pensei que seria possível viver por toda a vida, mas chegou o
momento em que a minha humanidade falou mais forte. Realmente o celibato é um
dom e nem todos são capazes de viver e entender. Admiro muito aqueles que são
capazes de viver. Acredito que a não vivência do celibato não impede de exercer
e nem mácula este ministério.
Contudo, é uma
disciplina da Igreja e que deve ser cumprida por aqueles que escolhem
livremente vivê-la. Não sou eu quem vai mudar a disciplina, eu quem devo mudar.
Então, me debrucei nesta reflexão, concluindo que não poderia ser incoerente
com a minha escolha. Decidi então recomeçar a minha vida, rompendo com meus
sonhos e esperanças e de tantos outros que depositaram em mim.
Que fique claro, que
em momento algum nesta nova escolha desejei ou articulei magoar alguém. Quantas
vezes quis dominar o meu coração, mas isso é impossível quando sentimos um amor
verdadeiro sem malícias e pretensões. Peço perdão se alguém sentiu ferido e atingido
por mim. O amor é amor quando existe reciprocidade e isso eu senti. Nada pode
contra e ninguém pode resistir ao amor. É o último grau de evolução, é onde
Deus está, é o que Deus é e não é possível ir contra isto.
Com imensa satisfação,
continuarei servindo a Igreja, assumindo o meu batismo como discípulo e
missionário de Jesus Cristo, e, exercendo o meu sacerdócio batismal,
celebrando, agora, uma liturgia doméstica, culto a Deus prestado ao Senhor em
casa, oferenda religiosa da vida conjugal, pondo em prática o plano de amor que
Deus confiou ao homem e mulher.
Peço oração e
compreensão de todos que ao longo da caminhada cruzaram o meu caminho.
Preservarei os mesmos sentimentos e carinho por todos. Agradeço àqueles e
àquelas que foram ombro amigo aonde eu descansei, desabafei e por muitas vezes
chorei neste meu itinerário de discernimento. Tomo esta decisão na firme
esperança e na sinceridade de coração.
Saibam que não desisti
da caminhada, apenas mudei a rota, na certeza de que todas tem o mesmo destino.
Sejamos felizes e que Deus nos abençoe!
Cordialmente,
Francisco Batista de
Sousa Neto" (Por Diário do Sertão)
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