*Dr. Paulo Lima
Duas reportagens estampadas nas
capas de nossos dois maiores jornais em circulação no Estado me chamaram a
atenção nesta manhã de sábado. A primeira delas falava sobre a pesquisa
polêmica divulgada no dia de ontem, pelo IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada, na qual 65,1% dos entrevistados opinaram que as mulheres que vestem
roupas decotadas, saias curtas, mostrando o seu corpo, ou parte dele, merecem ser
atacadas. O mais grave, no entanto, é que a mesma pesquisa revelou que 66,5%
das pessoas entrevistadas eram mulheres.
Sinceramente, nunca vi um absurdo
tamanho!
Não é a toa que a onda de
violência contra a mulher vem crescendo no nosso Estado e no País e não me
admira nada que esteja crescendo a cada dia, dentro dos ônibus e metrôs, a
exemplo de São Paulo, que, mesmo tendo destinado vagões exclusivos para elas,
não evita os ataques de doentes sexuais, constrangendo diuturnamente as
mulheres, com gestos, esfregões, atentado violento ao pudor e porque não dizer,
tentativa de estupro! E será que a culpa
realmente é das vestes usadas por elas? Ora, faça-me um favor!
Não é a roupa usada por uma mulher
que vai gerar atos desta natureza! Não,
absolutamente não!
O que provoca estes atos animalescos
é a mentalidade doente e machista da nossa sociedade, que, apesar de se
encontra em pleno século XXI, ainda tem a mentalidade arcaica, somente
comparada a civilizações medievais, ou de alguns países do Oriente Médio, nos
quais a mulher é obrigada a se vestir de preto, cobrindo todo o corpo, no mais
das vezes sem deixar à mostra, sequer, os olhos, tudo para não despertar esses
instintos animalescos nos homens! Não é a toa que sempre que uma mulher é
estuprada, violentada sexualmente, procura-se colocar a culpa na mesma, como se
a doente fosse ela e não o animal que a atacou.
Em verdade, há muito passou o
momento dessa mesma sociedade, tomar consciência de que nenhuma roupa ou modo
de vestir pode justificar atos bárbaros como esses, praticados diuturnamente
contra as mulheres. Devemos nos conscientizar, pois, que a mulher, seja ela
freira ou prostituta, deve ser tratada e respeitada, igualitariamente, posto
que é direito seu, garantido pela vigente Constituição Federal.
Outra questão que igualmente
merece a nossa repulsa é o preconceito racial, principalmente contra nós,
nordestinos.
Hoje mesmo foi noticiado que um
piloto da empresa de aviação, Avianca, postou na quinta-feira passada, na sua
página do Facebook, ofensas de conteúdo racista e discriminatório contra o
nosso povo, tão somente porque lhe serviram um prato diferente daquele que ele
pedira num restaurante na vizinha capital, João Pessoa. Felizmente, esse
indivíduo já recebeu o prêmio por sua por sua imbecilidade: foi demitido dos
quadros da empresa.
E, pergunto: o que tem uma pessoa
nascida no Sul ou no Sudeste, de diferente, daquela nascida em nossa terra,
para se sentir tão superior? E respondo: tão somente a ignorância e o
preconceito racista, sentimentos que em nada dignificam a pessoa humana. E vou
mais além. Em verdade, uma pessoa que se porta desta maneira deveria, ela sim,
ser posta atrás das grades, por um bom tempo, para aprender a conviver
civilizadamente, pois comete nada mais, nada menos, o crime de injúria racial.
Para esses animais, que atacam as
mulheres, somente porque estão mostrando o seu corpo, ou parte dele, através de
uma vestimenta e que ofendem a honra dos nordestinos, a troco de nada, a
cadeia, ou melhor, a jaula, ainda é o lugar mais apropriado!
Um abraço a todos.
*PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade
Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente
exerce o cargo de Procurador Federal.
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