*Dr. Paulo Lima
Sempre
que paro um pouco para respirar em meio a esta rotina massacrante que é o nosso
dia a dia, e dou uma olhada nos jornais, me deparo, quase sempre, com temas
envolvendo a ganância, nas mais diversas formas, desde pequenos trambiques
a grandes golpes envolvendo milhões; e a justiça na outra ponta, no mais
das vezes, tal qual a deusa Têmis, que bem lhe representa, com uma venda a
tapar os seus olhos, a balança numa das mãos e a espada na outra, imóvel e alheia
a todos os males que afligem a humanidade, fazendo com que, no mais das vezes a
sociedade a veja como tal: imóvel e insensível.
Agora
mesmo, nos deparamos com um fato estarrecedor, mais um entre tantos,
relacionado à morte de um garoto de 11 anos, por nome Bruno, filho de um
médico, assassinado friamente, cujo crime a política suspeita que tenha sido
motivado por ganância, já que a sua mãe, morta em 2010 e que supostamente teria
cometido suicídio, deixou para o mesmo uma pequena fortuna. Agora a polícia conduz a linha de
investigação, inclusive, para apurar se a morte da mãe do garoto teria sido mesmo
suicídio, dadas as circunstâncias do fato, já que o suposto evento teria sido
cometido nas dependências da clínica do seu ex-marido, o tal médico, pai da
criança, principal suspeito no assassinato do garoto. E tudo por conta de
dinheiro, vejam vocês! Para quem não está acompanhando o caso, informo que os
principais suspeitos do crime do garoto, são, pela ordem, a madrasta, uma
enfermeira que na época da separação já estava envolvida com o médico, uma
amiga da mesma e, claro, o genitor do menino Bruno.
E
a justiça, onde fica nessa estória, perguntariam vocês, minha meia dúzia de
pacientes leitores? E respondo: Inerte é cega, como não raramente sói acontecer.
O
fato é que a estória desse garoto resume-se a sofrimento e desprezo do seu pai,
a ponto de ter procurado o Conselho Tutelar de sua cidade para que lhe
arranjassem uma família substituta, já que sua avó materna, pessoa idosa,
estaria em disputa judicial com o seu pai, justamente em razão de bens do
inventário que estariam sendo sonegados pelo mesmo. E assim foi feito.
Entretanto, o pai do garoto Bruno, arrependido, teria procurado a justiça e
pedido para se reaproximar do seu filho, o que foi prontamente atendido e deu
no que deu!
Agora
o Juiz que proferiu a decisão se diz arrependido, mas, segundo explicou,
estaria atendendo aos ditames da Lei, naquele caso. E a justiça, onde é que
fica nessa estória?
Ao
longo dos meus anos de faculdade, aprendi, logo no início, que, ao aplicar a
Lei o Magistrado deve atentar para os fins sociais a que ela se dirige e para
as exigências do bem comum. E qual a exigência maior do bem comum se não o
alcance da justiça social?
Ao
que tudo indica, hoje estes princípios não são mais repassados nos bancos de
faculdade e, daí, a insensibilidade dos juízes, com raríssimas exceções. Mas
também, pudera. O que se pode esperar de jovens de classe média-alta, que são
financiados por seus pais, alguns, também juízes, e após oito, dez anos de
estudo, trancafiados dentro de um mundo só deles saem para exercer a
magistratura após a aprovação em concurso?
Em que pensam esses jovens, se
não em ganhar dinheiro? Como podem
julgar os destinos das pessoas, se não sabem o que é justiça?
Enquanto
isso, a justiça, ela mesma, permanece cega e inerte, talvez esperando o dia em
que a sociedade lhe abra os olhos.
Um abraço e uma boa páscoa a
todos.
*PAULO ROBERTO DE LIMA é
graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito
pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente exerce o cargo de Procurador
Federal.
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