*Dr. Paulo Lima
Sempre que posso, seja de manhã ou
à noite sempre que estou dentro do meu carro ouço o rádio – o maior e mais
democrático veículo de comunicação que nós temos, mesmo nestes tempos modernos
de internet – já que também é de graça e acessível a todas as camadas sociais –
seja do mais pobre ao mais rico. Não sei se rico ouve rádio, mas deveria ouvir.
Aprenderia muita coisa, pois o rádio tem muito o que ensinar.
Voltemos ao tema pois o assunto é
outro.
Pois bem, esta semana, ao seguir
para o trabalho, como sempre liguei o rádio e me deparei com um debate deveras
interessante, pois dizia respeito ao tema acima. Não é novidade para ninguém
que a questão da redução da menoridade penal, vez por outra entra em cena, dada
a crescente violência com a qual nos deparamos no dia a dia, seja na cidade
grande – esta cidade cruel, na visão de AGAMENON MAGALHÃES – que a cada dia que
passa se faz mais merecedora do nome, não por uma questão política, mas sim em
razão da violência, seja nas cidades do nosso Agreste Setentrional, que não
ficam muito atrás e vocês, que me leem nesse momento, não me deixam mentir.
Confesso que não raras vezes
partilhava a mesma opinião da avassaladora maioria de brasileiros, muito de vocês,
inclusive, creio, no sentido de que, em razão da crescente violência, onde
jovens entre 16, 18 anos, estão praticando toda a sorte de crimes, o que não é
mais novidade, deveria haver a redução da menoridade penal. Após a entrevista fiquei a pensar se
realmente a redução da menoridade seria uma solução, ou poderia agravar este
problema social, que a cada dia que passa bate mais próximo às nossas portas.
Creio que o problema não pode ser
encarado de maneira tão simplória.
Não é novidade para ninguém que as
prisões do nosso País e, claro, do nosso Estado, não têm as mínimas condições
de reeducar ninguém, fugindo assim do seu objetivo, que não é e nem deveria ser
somente punitivo, a ponto de serem denominadas de “universidade do crime”. Sim, pois, no mais das vezes um indivíduo que
é preso por um pequeno furto, ao sair da prisão passa a assaltar bancos,
traficar drogas e a cometer assassinatos, como sabemos. Então, diante desta
questão, somos forçados a reconhecer que a redução da menoridade somente agravaria
esse problema, já que esses mesmos jovens que cometem os chamados atos
infracionais passariam, com a redução da menoridade para 16 anos, por exemplo,
a cometer crimes e no caso seriam trancafiados juntamente com criminosos
escolados, recebendo, ao final da pena, o diploma superior nessa universidade
do crime.
Qual a solução então, perguntariam
vocês, minha meia dúzia de fieis e pacientes leitores? A educação, respondo.
Ora, meus caros, já restou
constatado em pesquisas e estudos diversos que os jovens desocupados, afastados
da escola, tendem a cometer delitos, seja em razão do ócio, seja por conta das
más companhias. E muitas vezes deixam as escolas por conta da dificuldade de
acesso aos estudos, das más condições e péssimas instalações das mesmas e, por
vezes, por conta da incúria dos pais, que não se preocupam com o futuro dessas
crianças e jovens, somente vindo a derramar suas lágrimas quando encontram os
seus filhos numa delegacia de polícia, numa prisão ou mesmo num necrotério, e aí
é tarde para chorar.
Sabemos nós que a educação é dever
do Estado e direito de nossas crianças e jovens, conforme diz a Constituição,
mas sabemos também que não é assim que a banda toca e a culpa, prezados, muitas
vezes tem que ser creditada aos políticos. Isto porque desviam para os seus bolsos esta
verba que deveria ser destinada a prover uma boa merenda escolar, para comprar
livros e cadernos e material escolar em geral e dotar as escolas de melhores
instalações, sem contar que sonegam, inclusive, o merecido salário de nossos
professores, que em sua grande maioria não ganham, sequer, o piso mínimo.
Querem ver um exemplo?
Vejamos a seguinte questão:
Quantas escolas em tempo integral, onde a criança e o adolescente estude e
pratique esportes, e que tenha uma alimentação razoável vocês conhecem? E do ponto de vista legal
acrescento que a redução da menoridade penal apresenta-se na atualidade
impossível de ser levada adiante, já que a própria Constituição veda
expressamente que se ponha em discussão este tema, em razão de suas cláusulas
pétreas, dentre as quais se encontra à proteção à criança e ao adolescente
contra toda a forma de violência, exploração, crueldade e opressão e não há
forma mais cruel e mais violenta do que colocar um adolescente dentro de uma
prisão.
Então meus caros, creio que entre
construir prisões, para lotar as mesmas com esses jovens, em razão da redução
da menoridade penal, que, convenhamos, não são solução para nada, e construir
escolas, fico com a segunda opção, esta sim, a solução que a grande maioria não
quer admitir.
Um abraço a todos.
*PAULO
ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em
Direito pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente exerce o cargo de
Procurador Federal.
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