*Dr. Paulo Lima
Não posso deixar de reconhecer que este feriadão me fez muito bem.
Pois é. Nestes quatro dias não fiz outra coisa a não ser ler e “pensar
na morte da bezerra”, como diz o ditado. Na verdade, a preguiça, este
pecado capital – que pecado bom, diriam
vocês, que compartilham comigo – foi minha companheira fiel e que não me
deixou, sequer, fazer uma caminhada nas areias não tão limpas aqui da praia de
Rio Doce, Olinda. Mas, confesso que
estava procurando justamente isso: ficar esticado na rede contemplando o
horizonte e, vez por outra dando uma espiadinha no face, que ninguém é de ferro
e vício é vício...
O bom nisso tudo é que quando você dá uma mergulhada lhe vem à
memória fatos que ficaram num passado não tão distante, os quais vieram
acompanhados de uma boa leitura. Foi o que fiz. Nos intervalos me vieram à
memória passagens da minha infância e juventude, dentre elas, um certo dia de
07 de setembro de 1970, que me fez colocar o título acima.
Tinha 14 anos e estava, então, me recuperando de uma
broncopneumonia que quase me levou ao Cemitério de São José e havia três meses
que não saía de casa, mas naquele 07 de setembro vesti a farda da “Banda
Musical São José” e fui participar do desfile. Já cursava o Ginásio,
mas preferi usar a farda da minha querida Banda de Música. Lá chegando me deparei com uma faixa carregada
por duas alunas do ginásio Gil Rodrigues, cuja frase dizia o seguinte: “BRASIL:
AMEI-O OU DEIXEI-O!”. Isso mesmo. Estava escrita desse jeito, com
a grafia errada. Naquela época, não se ouvia falar de ditadura em Vertentes,
minha cidade, mas tempos depois descobrimos que esse foi um dos piores anos da
repressão, em que morreram muitos jovens brasileiros, vítimas das mais infames
torturas, enquanto o Brasil se sagrava tricampeão mundial de futebol e vivas
eram dadas aos militares! E ai
de quem dissesse o contrário. Tinha três caminhos a seguir: ir
para a prisão; para fora do Brasil, ou ia parar embaixo de sete palmos de terra!
Agora, me vindo à memória estes fatos, posso constatar que a faixa
com esse erro grosseiro de grafia só não foi retirada do desfile na ocasião,
porque, aí do infeliz ou da infeliz que se atrevesse a tanto, pois correria o
sério risco de ser tachado(a) de subversivo(a) e em sendo assim “ia ver o que era bom prá tosse!”
Outra explicação não encontro, posto que naquela época tínhamos
excelentes professores, dentre as quais destaco Dona Alice Santos, a quem nos dias atuais credito os meus acertos na escrita da nossa língua-mãe. Tempos duros, aqueles, para quem discordava
do Regime de então.
O mais engraçado é que nos dias atuais vemos alguns imbecis a
descerem a lenha na nossa Presidente –
taí o Facebook que não me deixa mentir – com ofensas à sua pessoa, inclusive, sem se
aperceberem que, com tal ato estão ofendendo nossas próprias instituições. Eu queria ver se fosse naqueles tempos, o que
diriam...
Com isto eu quero apenas lembrar que a maior dádiva que podemos
ter é a liberdade, em todas as suas formas, liberdade esta que foi conseguida a
duras penas e a custas de vidas daqueles que se atreveram a levantar a voz
contra o regime autoritário de então e por isso mesmo é que não comungo com esses
mesmos imbecis – e nem os respeito, pois
imbecilidade não merece respeito – pois enquanto Presidente do nosso País
DILMA ROUSSEF deve ter o merecido respeito!
PS.
Antes que alguém pense que mudei de opinião, continuo a afirmar que não vou
votar no PT!
Um abraço a todos.
*Paulo
Lima é advogado e atualmente exerce o cargo de Procurador Federal.
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