*Por Dr. Paulo Lima
Até pouco tempo atrás,
confesso, nunca tinha ouvido esta palavra e, para quem, como eu, também não
conhecia o seu significado, de logo adianto que se trata de uma comida ou, mais
propriamente, é um tipo de fiambre de peito de peru – comida de gente fina,
literalmente – que tem menos de três por cento de gordura e, deste modo, ajuda
a manter a forma. Ao menos é isto o que se lê na embalagem. Agora o que vocês
não sabem, nem tampouco eu sabia, até que abri a geladeira, dias desses e
descobri esta raridade (raridade é exagero, minha gente).
Como sou meio curioso
peguei o pacote para tirar uma fatia e experimentar esta guloseima. Pois bem,
quando meto a mão, senti as garras de um felino rasgando a minha perna e, além
da dor, levei um susto tão grande que o bicho (refiro-me ao fiambre) caiu no
chão.
Era um dos cinqüentas
gatos que coabitam comigo, pacifica e harmoniosamente na casa onde moro, aqui
em Olinda. O nome dele é “julinho” e garanto a vocês que, quem manda no pedaço
é o bichano! De logo adianto que não fui eu que coloquei esse nome afrescalhado
no gato. Eita! Me desculpem a expressão politicamente incorreta… Fiquei meio
injuriado com o safado do gato mas não teve jeito, tive que devolver o
“blanquet de peru” de volta à geladeira, pois há algum tempo que não me meto
mais com os bichanos, sob pena de ser despejado e não é isto que desejo nesta
altura do campeonato. Afinal, já pensaram, uma pessoa como eu, que já ultrapassou
a casa dos cinqüenta anos e que há muito deixou de ser um “gato” (na verdade
estou mais para guabiru) ser despejado e se transformar num “sem teto”?
Em verdade não queria
conviver com tantos gatos numa casa. Não que eu não goste dos bichanos, não é
isso, mas vocês hão de convir que cinqüenta e tantos gatos dentro de uma casa é
um pouco demais! Os danados tornam-se, literalmente, os donos da casa; sobem na
mesa, dormem na sua cama, ocupam o seu sofá, e aí de você se tentar se meter
com um deles, pois está fadado a levar uns bons arranhões!
O danado é que, no dia
seguinte ao evento um deles (não posso afirmar que foi o safado do Julinho pois
não tenho provas e acusar sem provas é crime!) encontrou o meu “lap top”
aberto, na minha mesa de trabalho e não teve dúvidas: tascou-lhe uma bela
mijada, causando um curto circuito tão grande que o computador não teve mais
conserto. Ainda bem que consegui salvar os meus arquivos, que se encontravam
armazenados no disco rígido da máquina. O fato é que, por conta dessa desavença
felina (a minha mulher jura de pés juntos que não foi o safado do Julinho) tive
que desembolsar quase dois mil reais na compra de um computador novo, vejam
vocês, sem contar com o trabalhão que tive para comprar o bicho (refiro-me ao
“lap top”), pois o shopping (eu morro e não me acostumo com essas frescuras de
utilizarem termos americanizados em tudo quanto é coisa) estava apinhado de
gente fazendo compras. E ainda dizem que o Brasil está em crise; só se for em
crise de falta de vergonha na cara, como diria “seu Quincas”, o nosso
conterrâneo que entende como ninguém de política. Por falar nisso, preciso
bater um papo com seu Quincas para me inteirar das novidades na minha terrinha,
pois comenta-se que agora em 2016 o bicho vai pegar! Cá estou eu tergiversando…
Voltemos ao assunto.
O fato é que, como não
tem jeito mesmo e há muito já me conformei com a minha sina, vou terminar os
meus dias convivendo com os bichanos. O consolo é que, dia desses me disseram
que existe um ditado chinês que diz que na casa onde vivem muitos gatos os
habitantes têm uma vida longa e, deste modo, acredito que ainda vou viver mais
uns duzentos anos, para a alegria de muitos e tristeza de alguns outros, aí de
nossa terrinha, que não morrem de amores por mim. Mas finalizo, parafraseando o
grande Zagalo: Eles vão ter que me engolir! A essas pessoas, sugiro que comecem
a criar gatos e passem a comer “blanquet de peru”, pois quem sabe, deste modo
vivam também algumas centenas de anos?
Um abraço a todos.
*Dr. PAULO ROBERTO DE
LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito
pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente exerce o cargo de Procurador
Federal.
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