*Dr.
Paulo Lima
Eu não sei explicar direito, mas tem
certos momentos na vida que, vez por outra, voltamos a um passado não muito
distante e, viajando no tempo reavivamos lembranças que acreditávamos estarem
adormecidas para sempre. Sei que alguns de vocês ainda não alcançaram esta
idade, nem tampouco esta fase, mas o fato é que, depois dos cinquenta essas
lembranças são cada vez mais constantes. É a velhice que começa a bater na
minha porta, reconheço e, ao mesmo tempo, digo que a velhice não nos presenteia
tão somente com as limitações próprias da idade; ela também nos concebe uma
dádiva de Deus: a sabedoria. Não é o meu caso, obviamente, pois ainda não
alcancei esta graça divina, apesar da idade. Mas, deixemos de tergiversar e
vamos ao tema, objeto destas mal traçadas linhas.
Dia desses fui a um aniversário de
oitenta e nove anos de um amigo em nossa terrinha, Vertentes e, a certa altura
da festa o cantor que estava animando o evento começou a interpretar algumas
canções de Evaldo Braga, que me fizeram retornar à minha juventude. Eu não sei
se vocês recordam de Evaldo Braga, mas esse cantor e compositor deu uma nova
roupagem à chamada música brega, como a conhecemos atualmente. Ele fez grande
sucesso no final da década de 60 e início dos anos 70, com grandes sucessos
como “A cruz que carrego”, “Eu não sou lixo” “Sorria, sorria”, dentre outras
canções. A sua trajetória relâmpago - iniciou a sua carreira com o
lançamento do seu primeiro compacto em 1969, lançando a seguir dois LP´s, em
1971 e 1972 - findou em janeiro de 1973, já que faleceu tragicamente num acidente
de carro naquele ano. Naquela época, o preconceito de cor era muito mais
acentuado que em nossos dias, mas a sua pele negra, tal qual o ébano, não o impediu
de alcançar esse estrondoso sucesso, ficando conhecido como o “Ídolo negro do
Brasil”, já que a sua voz marcante fez com que ele superasse todas as barreiras
e preconceitos de então. Acredito que Evaldo Braga foi o precursor desse estilo
de música brega, como o conhecemos atualmente, pois até então, quando se falava
em música brega os nomes que vinha à nossa mente era Waldick Soriano, Roberto
Müiller, Adilson Ramos, dentre outros tantos, que interpretavam os
indefectíveis “bolerões”. Hoje nem mesmo Adilson Ramos canta mais boleros, já
que entrou na modernidade, vejam vocês.
Confesso que gostava e ainda gosto de
música brega. Não as que são
interpretadas, ou melhor, gritadas por essas “bandas de brega” com suas
cantoras de voz gasguita que mais parecem uma galinha com dor de barriga (como se galinhas tivessem dor de barriga,
vejam vocês) e só sabem mesmo gritar e gemer como se estivessem tendo um
orgasmo num motel de segunda categoria. Eita, gota serena, agora peguei forte,
reconheço!
Mas, o que eu queria falar, quando
descambei para essas divagações era das lembranças de minha juventude, que, vez
por outra teimam em reacender, tal qual a fênix, da mitologia grega. Seria bom
se fôssemos como ela... As lembranças são como nossos sonhos, alguns bons, outros
nem tanto. O fato é que, em minha juventude tinha muitos sonhos bons. Hoje quase
não sonho mais. No entanto, ainda me restam às lembranças, boas, como as
canções interpretadas por Evaldo Braga. Mas, o que é que esta canção de
Paulinho da Viola - Foi um Rio Que Passou em Minha
Vida - título destas mal traçadas linhas, tem a ver com as minhas
lembranças, perguntariam vocês. E respondo, com uma pergunta: vocês já
repararam na letra desta música?
“Se um dia, Meu coração for consultado, Para saber se andou errado, Será
difícil negar.
Meu coração tem mania de amor, Amor não é fácil
de achar, A marca dos meus desenganos Ficou,
ficou, Só um amor pode apagar”...
Pois é. Quando a velhice começa a
bater em nossa porta os sonhos começam a sumir, ficando em seu lugar as
lembranças, as manias, as limitações próprias da idade e alguns desenganos...
Que tal seguir a sugestão de Paulinho da Viola e apagar tudo isso com uma boa
dose de amor? Afinal, é o único remédio que se pode consumir em excesso, pois só
faz bem ao coração. Qualquer hora dessas ainda escrevo uma canção... E não é
que rimou?
Abraços a todos.
*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade
Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, advogado, e
atualmente exerce o cargo de Procurador Federal.
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