sexta-feira, 17 de abril de 2015

FOI UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA

*Dr. Paulo Lima

Eu não sei explicar direito, mas tem certos momentos na vida que, vez por outra, voltamos a um passado não muito distante e, viajando no tempo reavivamos lembranças que acreditávamos estarem adormecidas para sempre. Sei que alguns de vocês ainda não alcançaram esta idade, nem tampouco esta fase, mas o fato é que, depois dos cinquenta essas lembranças são cada vez mais constantes. É a velhice que começa a bater na minha porta, reconheço e, ao mesmo tempo, digo que a velhice não nos presenteia tão somente com as limitações próprias da idade; ela também nos concebe uma dádiva de Deus: a sabedoria. Não é o meu caso, obviamente, pois ainda não alcancei esta graça divina, apesar da idade. Mas, deixemos de tergiversar e vamos ao tema, objeto destas mal traçadas linhas.
Dia desses fui a um aniversário de oitenta e nove anos de um amigo em nossa terrinha, Vertentes e, a certa altura da festa o cantor que estava animando o evento começou a interpretar algumas canções de Evaldo Braga, que me fizeram retornar à minha juventude. Eu não sei se vocês recordam de Evaldo Braga, mas esse cantor e compositor deu uma nova roupagem à chamada música brega, como a conhecemos atualmente. Ele fez grande sucesso no final da década de 60 e início dos anos 70, com grandes sucessos como “A cruz que carrego”, “Eu não sou lixo” “Sorria, sorria”, dentre outras canções. A sua trajetória relâmpago - iniciou a sua carreira com o lançamento do seu primeiro compacto em 1969, lançando a seguir dois LP´s, em 1971 e 1972 - findou em janeiro de 1973, já que faleceu tragicamente num acidente de carro naquele ano. Naquela época, o preconceito de cor era muito mais acentuado que em nossos dias, mas a sua pele negra, tal qual o ébano, não o impediu de alcançar esse estrondoso sucesso, ficando conhecido como o “Ídolo negro do Brasil”, já que a sua voz marcante fez com que ele superasse todas as barreiras e preconceitos de então. Acredito que Evaldo Braga foi o precursor desse estilo de música brega, como o conhecemos atualmente, pois até então, quando se falava em música brega os nomes que vinha à nossa mente era Waldick Soriano, Roberto Müiller, Adilson Ramos, dentre outros tantos, que interpretavam os indefectíveis “bolerões”. Hoje nem mesmo Adilson Ramos canta mais boleros, já que entrou na modernidade, vejam vocês.
Confesso que gostava e ainda gosto de música brega.  Não as que são interpretadas, ou melhor, gritadas por essas “bandas de brega” com suas cantoras de voz gasguita que mais parecem uma galinha com dor de barriga (como se galinhas tivessem dor de barriga, vejam vocês) e só sabem mesmo gritar e gemer como se estivessem tendo um orgasmo num motel de segunda categoria. Eita, gota serena, agora peguei forte, reconheço!
Mas, o que eu queria falar, quando descambei para essas divagações era das lembranças de minha juventude, que, vez por outra teimam em reacender, tal qual a fênix, da mitologia grega. Seria bom se fôssemos como ela... As lembranças são como nossos sonhos, alguns bons, outros nem tanto. O fato é que, em minha juventude tinha muitos sonhos bons. Hoje quase não sonho mais. No entanto, ainda me restam às lembranças, boas, como as canções interpretadas por Evaldo Braga. Mas, o que é que esta canção de Paulinho da Viola - Foi um Rio Que Passou em Minha Vida - título destas mal traçadas linhas, tem a ver com as minhas lembranças, perguntariam vocês. E respondo, com uma pergunta: vocês já repararam na letra desta música?
“Se um dia, Meu coração for consultado, Para saber se andou errado, Será difícil negar.
Meu coração tem mania de amor, Amor não é fácil de achar, A marca dos meus desenganos  Ficou, ficou, Só um amor pode apagar”...
Pois é. Quando a velhice começa a bater em nossa porta os sonhos começam a sumir, ficando em seu lugar as lembranças, as manias, as limitações próprias da idade e alguns desenganos... Que tal seguir a sugestão de Paulinho da Viola e apagar tudo isso com uma boa dose de amor? Afinal, é o único remédio que se pode consumir em excesso, pois só faz bem ao coração. Qualquer hora dessas ainda escrevo uma canção... E não é que rimou?

Abraços a todos.


*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, advogado, e atualmente exerce o cargo de Procurador Federal. 

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