Morreu no Recife,
nesta quarta-feira (23), o escritor, dramaturgo e poeta paraibano Ariano
Suassuna, aos 87 anos. Ele estava internado desde a noite de segunda (21) na
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Português, onde foi submetido a
uma cirurgia na mesma noite após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) do
tipo hemorrágico. Do primeiro contato com o circo e com peças colegiais, no
sertão paraibano, até a diversificada biblioteca que encontrou em uma escola do
Recife quando ainda era estudante do ensino fundamental, deixou um legado
inegável na literatura, no teatro, nas artes plásticas e na música. Ariano
nasceu em 16 de junho de 1927, em João Pessoa, e cresceu no Sertão paraibano.
Mudou-se com a família para o Recife em 1942. Mesmo com os problemas na saúde,
ele permanecia em plena atividade profissional. "No Sertão do Nordeste a
morte tem nome, chama-se Caetana. Se ela está pensando em me levar, não pense
que vai ser fácil, não. Ela vai suar! Se vier com essas besteirinhas de infarto
e aneurisma no cérebro, isso eu tiro de letra", disse ele, em dezembro de 2013,
durante a retomada de suas aulas-espetáculo. (Fonte: O Globo)
O sepultamento está
marcado para as 16h desta quinta-feira (24), no Cemitério Morada da Paz, no
Paulista, Região Metropolitana do Recife. Na noite desta quarta, será realizada
uma celebração de corpo presente pelo frei Aloísio Fragoso. A cerimônia será
restrita para a família e amigos do escritor. Cinco lanceiros do regimento Dias
Cardoso compõem a Guarda Fúnebre e ficarão posicionados ao lado do corpo
durante o velório. A honraria é concedida pela Polícia Militar para
autoridades. Até o momento acredita-se que a visitação para o público seja
prorrogada.
BIOGRAFIA: Ariano
Vilar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), no dia
16 de junho de 1927, filho de Cássia Vilar e João Suassuna. No ano seguinte,
seu pai deixa o governo da Paraíba e a família passa a morar no Sertão, na
Fazenda Acauã, em Aparecida, Paraíba.
Com a Revolução de
1930, seu pai foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro e a
família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade, Ariano
fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de
mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma
das marcas registradas também da sua produção teatral.
A partir de 1942
passou a viver no Recife, onde terminou, em 1945, os estudos secundários no
Ginásio Pernambucano, no Colégio Americano Batista e no Colégio Osvaldo Cruz.
No ano seguinte iniciou a Faculdade de Direito, onde conheceu Hermilo Borba
Filho. E, junto com ele, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947,
escreveu sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol. Em 1948, sua peça Cantam
as Harpas de Sião (ou O Desertor de Princesa) foi montada pelo Teatro do
Estudante de Pernambuco. Os Homens de Barro foi montada no ano seguinte. De
formação calvinista e posteriormente agnóstico, converteu-se ao catolicismo, o
que viria a marcar definitivamente a sua obra. Ariano Suassuna estreou seus
dons literários precocemente no dia 7 de outubro de 1945, quando o seu poema
"Noturno" foi publicado em destaque no Jornal do Commercio do Recife.
Em 1950, formou-se na
Faculdade de Direito e recebeu o Prêmio Martins Pena pelo Auto de João da Cruz.
Para curar-se de doença pulmonar, viu-se obrigado a mudar-se de novo para
Taperoá. Lá escreveu e montou a peça Torturas de um Coração em 1951. Em 1952,
volta a residir em Recife. Deste ano a 1956, dedicou-se à advocacia, sem abandonar,
porém, a atividade teatral. São desta época O Castigo da Soberba (1953), O Rico
Avarento (1954) e o Auto da Compadecida (1955), peça que o projetou em todo o
país e que seria considerada, em 1962, por Sábato Magaldi “o texto mais popular
do moderno teatro brasileiro”.
Em 1956, abandonou a
advocacia para tornar-se professor de Estética na Universidade Federal de
Pernambuco. No ano seguinte foi encenada a sua peça O Casamento Suspeitoso, em
São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso, e O Santo e a Porca; em 1958, foi encenada
a sua peça O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna; em 1959, A Pena e a Lei,
premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro.
Em 1959, em companhia
de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste, que montou em seguida
a Farsa da Boa Preguiça (1960) e A Caseira e a Catarina (1962). No início dos
anos 60, interrompeu sua bem-sucedida carreira de dramaturgo para dedicar-se às
aulas de Estética na UFPE. Ali, em 1976, defende a tese de livre-docência A
Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira.
Aposenta-se como professor em 1994.
Membro fundador do
Conselho Federal de Cultura (1967); nomeado, pelo Reitor Murilo Guimarães,
diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE (1969). Ligado diretamente
à cultura, iniciou em 1970, em Recife, o “Movimento Armorial”, interessado no
desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão populares
tradicionais. Convocou nomes expressivos da música para procurarem uma música
erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento, lançado em Recife, em 18
de outubro de 1970, com o concerto “Três Séculos de Música Nordestina – do
Barroco ao Armorial” e com uma exposição de gravura, pintura e escultura.
Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no Governo Miguel Arraes
(1994-1998).
Entre 1958-79,
dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o Romance d’A Pedra do Reino e
o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) e História d’O Rei Degolado nas
Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1976), classificados por ele de
“romance armorial-popular brasileiro”.
Ariano Suassuna
construiu em São José do Belmonte, onde ocorre a cavalgada inspirada no Romance
d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar livre, constituído de 16 esculturas de
pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em círculo, representando o sagrado
e o profano. As três primeiras são imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São
José, o padroeiro do município. Tornou-se membro da Academia Paraibana de
Letras e Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(2000).
Em 2004, com o apoio
da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário intitulado O Sertão: Mundo de
Ariano Suassuna, dirigido por Douglas Machado e que foi exibido na Sala José de
Alencar.
Em 2002, Ariano
Suassuna foi tema de enredo no carnaval carioca na escola de samba Império
Serrano; em 2008, foi novamente tema de enredo, desta vez da escola de samba
Mancha Verde no carnaval paulista. Em 2013 sua mais famosa obra, o Auto da
Compadecida será o tema da escola de samba Pérola Negra em São Paulo.
Em 2006, foi concedido
título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Ceará, mas que veio
a ser entregue apenas em 10 de junho de 2010, às vésperas de completar 83 anos.
"Podia até parecer que não queria receber a honraria, mas era problemas de
agenda", afirmou Ariano, referindo-se ao tempo entre a concessão e o
recebimento do título. Torcedor fanático do Sport Recife, Ariano também deixa
de luto a maior torcida do Nordeste, embora também fosse admirado até pelos
torcedores rivais.
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