*Dr. Paulo Lima
Muita gente costuma dizer que a velhice, além da experiência faz com
que sejamos sábios. Eu penso um pouco diferente, pois em relação a mim mesmo,
além das limitações físicas, próprias da idade, a velhice está fazendo com que
eu seja cada dia mais intolerante! E não é prá menos, pois vocês hão de convir
que não é fácil para alguém como eu, do interior, nascido e criado num pequeno
sítio, acostumado a correr entre as mangueiras e goiabeiras, molhando os pés
nas águas frias e cristalinas do riacho que serpenteava por entre as árvores do
sítio da minha avó, “mãe Nem Nem”, se acostumar a esta “cidade cruel”, nas
palavras de Agamenon Magalhães. E quase
quarenta anos se vão desde o dia em que deixei a minha terrinha para vir tentar
a sorte, aqui, na cidade grande. Hoje não tem mais riacho nem águas
cristalinas, mas estou contanto os dias para voltar, não de vez, porque parte
das raízes que deixei em Vertentes trouxe para o litoral e a verdade é que a
gente cria raízes por onde anda. Sei que Agamenon Magalhães deu esta
denominação à nossa Veneza Brasileira, por conta de sua característica de ser
uma cidade “do contra”, politicamente falando. Eu penso que Recife é uma cidade
cruel por tantos outros motivos, que, se fosse enumerá-los, certamente daria
para escrever um livro e não somente um despretensioso artigo.
Um deles, certamente é o trânsito, que a cada dia que passa contribui
para aumentar as estatísticas nacionais de morte por acidentes. Muitos creditam
este evento infortunístico à imprudência dos condutores dos veículos,
principalmente das motos, com certa razão. Acrescento a isso à falta de
solidariedade, à arrogância e, principalmente à falta de educação das pessoas,
que, quando entram num carro se sentem os donos do mundo! É isso mesmo! Muitos
ainda têm um conceito, a meu ver, absolutamente equivocado, que possuir um
veículo dá status, sendo sinônimo de poder! Vocês mesmos leram num meu artigo escrito na
semana passada, a estória do Juiz da Land Rover e a guarda de trânsito. A
coitada foi parar na delegacia, simplesmente porque estava cumprindo o seu
dever e, ao exigir do mesmo os seus documentos e do veículo teve como resposta:
“Eu sou Juiz”! E ela, por dizer que ele era juiz, mas não era Deus, está
respondendo processo e corre o risco de ter que pagar uma indenização. Mas esta estória eu já contei e não quero ser
repetitivo.
O fato é que as pessoas quando compram um carro, não o fazem por
necessidade; pensam nele como um artigo de luxo e símbolo de poder! E é justamente
por conta desse individualismo; desse egoísmo, que, no mais das vezes não
respeitam as leis de trânsito, findando por matar um pobre coitado de um
motoqueiro ou de um pedestre que se atrever a cruzar o seu caminho. Mas,
afinal, o que esperar dessas pessoas, se são os donos do mundo?
De minha parte, uso o carro por uma questão de extrema necessidade, já
que o transporte público aqui na Capital é uma lástima, mas confio em Deus,
que, logo, logo vou precisar muito pouco desta ferramenta do progresso, já que
ao me aposentar vou precisar dele tão somente para me levar, vez por outra, a
cada quinze dias, ao meu sítio, no alto da serra e transportar no porta malas
um saco de milho para alimentar minhas galinhas!
Um abraço a todos.
*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade
Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente
exerce o cargo de Procurador Federal.
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