*Dr.
Paulo Lima
Eu o conhecia apenas pelo singelo
apelido de "soldado Bombinha".
Apelido este que ganhou, talvez porque gostava de usar, sempre, uma boina do
exército. Somente agora soube que o seu
nome de batismo era José Alves da Silva, informação que me foi passada por Paulo
Sobral, um amigo comum. Conheci este personagem quase folclórico, que, durante
todos esses anos sempre foi presença constante na história recente de nossa "Princesa
do Agreste", de muitos conhecido no centro do comércio de Caruaru
e que se foi recentemente numa viagem sem volta. Tinha noventa e cinco anos bem
vividos, de uma inocência quase pueril, mas guardava ainda uma lucidez de fazer
inveja a nós outros! Caruaru, embora não
possa ser considerada uma cidade tipicamente de interior, já que, pela sua
importância comercial e pelo seu número de habitantes é considerada, inclusive,
a "Capital do Agreste",
também guarda em seu histórico "causos"
e personagens típicos de uma cidade do interior. E "Bombinha" era um deles.
Virei seu fã logo que o conheci,
quando me visitou pela primeira vez, numa de minhas residências, localizada no
Sítio Santo Antônio, zona rural de Taquaritinga do Norte, a nossa querida Dália
da Serra, levado por este mesmo amigo comum.
"Bombinha", na sua
inocência e espontaneidade era um show! Imitava o relinchar de um jegue com uma
perfeição tal, que, certa vez, quando terminou a sua imitação, um jumento que
se encontrava num sítio próximo, respondeu com um relincho desafiador,
certamente pensando que se tratava de um adversário, invadindo o seu
território. De fato, "Bombinha"
tinha um vozeirão possante e afinado e, quando soltava a voz, cantando "Mulher
de Cabaré", sua música preferida, cujo refrão segue abaixo, dava
um show:
"Mulher de cabaré, Não tem amor sincero, Mulher de cabaré, Eu amo,
mas não quero. Sob luzes
fluorescentes, Passa noites acordada, Forçada a um copo de bebida, Morta de
sono amargurada."
Salvo engano, esta música é uma
composição de Roberto Müller, de 1975. O fato é que, ao som de sua voz, as
elevações montanhosas da Serra da Taquara reproduziam-na em eco, como se a
serra fizesse parte de um coral a lhe acompanhar. Era mais um motivo para a
gente colocar uma boa dose do velho escocês e continuar um bate papo gostoso
tarde a fora. Creio que "Bombinha" me visitou duas ou
três vezes, durante os últimos anos e fazia já alguns que não tinha o prazer de
sua visita. Ultimamente ele não mais podia caminhar, pois um acidente no centro
de Caruaru fez com ele passasse a maior parte do tempo sobre uma cama e não
mais voltou a andar pelas ruas de Caruaru, por força, também, da idade avançada
- morreu com 95 anos - salvo engano,
embora absolutamente lúcido, fato que demonstra que Deus protege os inocentes.
Mas foi um personagem extraordinário, embora simplório, que marcou época em sua
cidade, a nossa querida Capital do Agreste.
Creio que alguns de vocês, que
costumam ler estas mal traçadas linhas que rabisco e que encaminho a alguns dos
amigos, todas as sextas feiras, para publicarem em seus veículos de
comunicação, nunca ouviu falar em "Bombinha",
exceto a maioria dos caruaruenses que frequentaram e ainda frequentam as ruas
do comércio daquela cidade e que são contemporâneos da chamada "época de ouro do rádio".
Sim, o rádio, este extraordinário
veículo de comunicação das massas teve a sua época de ouro e Caruaru foi
marcada pela inauguração da Rádio Difusora de Caruaru, no início da década de
50 (setembro de 1951), cujo prédio suntuoso, hoje circundado pelo Shopping
Difusora, abrigava os estúdios da rádio e um auditório, onde eram realizados
recitais e programas de auditórios aos domingos, com cantores diversos, além de
shows de natureza diversa. Hoje a maioria dos estúdios das emissoras cabem não
mais que entre quatro paredes de no máximo 3 X 4 metros. São outros tempos,
diriam vocês e é verdade, concordo. Mas "Bombinha"
este personagem, aqui reproduzido, também marcou época, principalmente para
aqueles que o conheceram. Numa de suas visitas, foi-me contada uma de suas histórias,
que, embora tenha sido por ele confirmada, não posso atestar a sua veracidade.
Relatou o nosso amigo comum que "Bombinha",
apesar de sua baixa estatura era bem dotado, sexualmente. Certa feita, num show
de auditório, de sexo explícito, a certa altura foi feito um desafio para que
qualquer dos homens presentes,se tivesse coragem podia vir fazer sexo, ao vivo,
com uma das bailarinas. Como ninguém da plateia se apresentou, "Bombinha", que na época tinha
livre acesso aos shows da emissora, dado o seu amplo conhecimento e estava
assistindo ao show, não resistiu e entrou no palco, devidamente paramentado,
dizendo, "é comigo mesmo!" Acontece, que, quando a moçoila adentrou
no palco e viu a ferramenta de "Bombinha"
saiu em desabalada carreira que nem bala alcançava, e o auditório quase foi
abaixo...
Não sei se a história ora reproduzida
realmente ocorreu, mas que me foi contada, isto eu posso afirmar. De uma coisa,
no entanto, eu tenho certeza: o nosso amigo "Bombinha"
vai deixar saudades...
*DR.
PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica,
bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, ex-Procurador Federal,
e atualmente exerce a advocacia.
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