sexta-feira, 20 de novembro de 2015

FALANDO AOS MEUS BOTÕES

*Dr. Paulo Lima

Creio que a sabedoria de uma pessoa, não raras vezes, se manifesta na medida em que ela fala menos e ouve mais. E não é fácil, reconheço, já que a grande diferença, que nos separa dos demais seres é justamente o falar, ou seja, a manifestação de nossos sentimentos através da linguagem falada. Geralmente o jovem não se contenta somente em ouvir e, quase sempre, manifesta a sua inquietude e tenta se afirmar através do falar. Quando a gente começa a se aproximar da velhice, no entanto, já tendo vivido experiências, cometidos acertos e desacertos vários, começa também a aprender a ouvir, exercício que não é fácil, reconheço. E, creiam vocês, que fazem parte desta minha meia dúzia de fiéis e pacientes leitores, que não pretendo, nestas mal traçadas linhas, fazer uma ode à velhice, mas, reconheçamos, poucas pessoas sabem envelhecer.
Dias desses, conversando com um amigo, ele desabafou com a voz embargada pela emoção, que, só sabe o que é a velhice aquele que já começou a conviver com ela e com as limitações por ela trazidas ao nosso corpo. Confesso que fiquei triste com suas palavras, pois creio que a velhice é mais um estado de espírito que propriamente uma condição física mas, reconheço, somente daqui há alguns anos poderei falar sobre esta questão com propriedade. E, realmente, ninguém gosta de envelhecer e, muito menos, ser chamado de velho...
O fato é que as pessoas, não raras vezes, atravessam grande parte de sua vida sem ouvir, sequer, o que diz a pessoa que está ao seu lado; sem se dar conta que não há exercício mais gratificante para a mente e o engrandecimento da alma que o silêncio.
Agora me veio à memória a célebre frase dita pelo rei Juan Carlos, da Espanha, ao presidente venezuelano Hugo chaves, durante a XVII Ibero-Americana, realizada em Santiago do Chile, no final do pretérito ano de 2007. Chaves, muito embora não fosse mais tão jovem, não deixava o primeiro-ministro espanhol, José Luiz Rodrigues Zapatero, terminar o seu discurso, em defesa do ex-primeiro ministro daquele País, José Maria Aznar, que, segundo Chaves, teria apoiado a tentativa de golpe perpetrado pela direita venezuelana contra o mesmo, no ano de 2002 e, a certa altura o rei, impaciente, teve que intervir, inquirindo o mesmo: Por que não te calas?
O silêncio, de fato, também é um grande exercício para a mente...
Confesso, que, ultimamente, tenho tentado praticar este exercício e, reconheço, o mesmo está me fazendo um bem danado! Não que eu já tenha chegado à velhice, ao meu sentir, mais um estado de espírito do que propriamente um estado físico. Absolutamente!
No entanto, chega um momento da vida que a pessoa é forçada pelas circunstâncias (menos acertos acertos e muito mais desacertos) a reconhecer, que o  som retumbante do silêncio se mostra, com frequência, bem mais importante que as palavras.
E não existem ouvintes melhores que os botões de nossas vestes.  Estes, sim, verdadeiros amigos, que não nos interrompem, jamais, e estão sempre a nos dar razão, através do seu silêncio obsequioso e sábio. E, ao final da conversa, muito embora não tenham dito uma só palavra, a gente termina por lhes dar razão e, claro, finda por lhes agradecer pela atenção dispensada...

*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é  graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, ex-Procurador  Federal, e atualmente exerce a advocacia.

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