Creio que a
sabedoria de uma pessoa, não raras vezes, se manifesta na medida em que ela fala
menos e ouve mais. E não é fácil, reconheço, já que a grande diferença, que nos
separa dos demais seres é justamente o falar, ou seja, a manifestação de nossos
sentimentos através da linguagem falada. Geralmente o jovem não se contenta
somente em ouvir e, quase sempre, manifesta a sua inquietude e tenta se afirmar
através do falar. Quando a gente começa a se aproximar da velhice, no entanto, já
tendo vivido experiências, cometidos acertos e desacertos vários, começa também
a aprender a ouvir, exercício que não é fácil, reconheço. E, creiam vocês, que
fazem parte desta minha meia dúzia de fiéis e pacientes leitores, que não
pretendo, nestas mal traçadas linhas, fazer uma ode à velhice, mas,
reconheçamos, poucas pessoas sabem envelhecer.
Dias desses,
conversando com um amigo, ele desabafou com a voz embargada pela emoção, que,
só sabe o que é a velhice aquele que já começou a conviver com ela e com as
limitações por ela trazidas ao nosso corpo. Confesso que fiquei triste com suas
palavras, pois creio que a velhice é mais um estado de espírito que
propriamente uma condição física mas, reconheço, somente daqui há alguns anos
poderei falar sobre esta questão com propriedade. E, realmente, ninguém gosta
de envelhecer e, muito menos, ser chamado de velho...
O fato é que
as pessoas, não raras vezes, atravessam grande parte de sua vida sem ouvir,
sequer, o que diz a pessoa que está ao seu lado; sem se dar conta que não há
exercício mais gratificante para a mente e o engrandecimento da alma que o
silêncio.
Agora me veio
à memória a célebre frase dita pelo rei Juan Carlos, da Espanha, ao presidente
venezuelano Hugo chaves, durante a XVII Ibero-Americana, realizada em Santiago
do Chile, no final do pretérito ano de 2007. Chaves, muito embora não fosse
mais tão jovem, não deixava o primeiro-ministro espanhol, José Luiz Rodrigues
Zapatero, terminar o seu discurso, em defesa do ex-primeiro ministro daquele
País, José Maria Aznar, que, segundo Chaves, teria apoiado a tentativa de golpe
perpetrado pela direita venezuelana contra o mesmo, no ano de 2002 e, a certa
altura o rei, impaciente, teve que intervir, inquirindo o mesmo: Por
que não te calas?
O silêncio, de
fato, também é um grande exercício para a mente...
Confesso, que,
ultimamente, tenho tentado praticar este exercício e, reconheço, o mesmo está
me fazendo um bem danado! Não que eu já tenha chegado à velhice, ao meu sentir,
mais um estado de espírito do que propriamente um estado físico. Absolutamente!
No entanto,
chega um momento da vida que a pessoa é forçada pelas circunstâncias (menos acertos acertos e muito mais
desacertos) a reconhecer, que o som
retumbante do silêncio se mostra, com frequência, bem mais importante que as
palavras.
E não existem
ouvintes melhores que os botões de nossas vestes. Estes, sim, verdadeiros amigos, que não nos
interrompem, jamais, e estão sempre a nos dar razão, através do seu silêncio
obsequioso e sábio. E, ao final da conversa, muito embora não tenham dito uma
só palavra, a gente termina por lhes dar razão e, claro, finda por lhes
agradecer pela atenção dispensada...
*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica,
bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, ex-Procurador Federal, e atualmente exerce a advocacia.
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