domingo, 17 de agosto de 2014

QUER SER BOM, PRESTE!

*Dr. Paulo Lima

O povo brasileiro é assim mesmo. Se morre um político de renome nacional, um cantor, ou até um jogador de futebol, os defeitos desaparecem como num passe de mágica. Isto mostra até certo ponto uma ingenuidade, mas dá provas, também, do coração generoso e da admirável solidariedade humana que faz de nós um povo extraordinário. A recente morte de EDUARDO CAMPOS é um exemplo do que estou falando.   De repente se torna a melhor das criaturas. Não que EDUARDO CAMPOS não fosse a melhor das criaturas, ou a pior; não é o que estou querendo dizer, mesmo porque não o conhecia como pessoa, em sua intimidade. Ao menos a imagem que ele passava era de um pai dedicado e de um marido amoroso, enfim, um homem que prezava pela sua família e o seu falecimento prematuro e trágico veio acentuar consideravelmente esta imagem e, repito, longe de mim dizer ou insinuar o contrário.       Entretanto, como político e homem público tinha defeitos, sim, e muitos!
Sei que alguns de vocês, que me leem neste momento, certamente estão à discordar do meu ponto de vista, mas não importa. Isto é bom, na medida em que nos chama a fazer uma reflexão mais aprofundada da natureza humana e prova, mais uma vez, o quanto é generoso o coração do nosso povo. Mas não posso deixar de dar razão a um velho adágio popular, muito conhecido entre nós, que diz: “se você quiser ser bom, morra ou se mude de cidade”. É a mais pura verdade. Bastou a morte prematura de EDUARDO CAMPOS para torná-lo quase um santo, ou até um mártir!  De repente desaparece os seus defeitos, suas virtudes são ressaltadas e, com isso tem início um verdadeiro festival de teorias conspiratórias, que giram em torno do acidente, as quais não resistem à mínima análise fria e imparcial dos fatos. E, indago, se o acidente tivesse ocorrido com DILMA ROUSSEF, ou com LULA, seria diferente? Penso que não, pois este sentimento piegas está na própria essência do nosso povo. No entanto é preciso cuidado para que injustiças não sejam cometidas com pessoas que não têm a mínima culpa ou responsabilidade com esse acidente, que vitimou não somente EDUARDO CAMPOS, mas também os companheiros que estavam com ele no fatídico voo. E não foi só ele que morreu, lembremo-nos disso.
É fato que, no campo político, nestas eleições, EDUARDO CAMPOS poderia até chegar ao segundo turno e, eventualmente, disputar a eleição presidencial e ganhar. Em política tudo é possível. No entanto, cabe lembrar que EDUARDO CAMPOS, antes de sua morte, estava patinando nas pesquisas, em torno de 8% a 11% das intenções de votos, tendo à sua frente DILMA ROUSSEF, com 36% a 38% e AÉCIO NEVES com 20% a 23% e, portanto, bem à frente do representante do PSB.  No entanto, tendo em vista esse evento trágico, estes aspectos ficam relegados para um plano menor e a lógica é o que menos importa em situações desta natureza.
Ora, minha gente, faça-me o favor!
Não é a morte trágica ou prematura de uma pessoa que fará dela um santo, ou mesmo um mártir, politicamente falando. Serão, sim, suas ações e os seus ideais políticos que farão dessa pessoa um diferencial e, neste aspecto, me desculpem os que pensam em contrário, EDUARDO CAMPOS ainda teria muita estrada a percorrer, se vivo continuasse e, talvez, nem chegasse lá, já que a sua sede de poder era insaciável!  Para se ter uma ideia do que estou falando, basta ver que nos últimos tempos  praticamente sufocou a oposição em nosso Estado e, com mão de ferro e espírito concentrador, típico de um autêntico coronel do asfalto, sufocou até mesmo alguns de seus pares, que tinham aspirações de se candidatar ao cargo de Governador do nosso Estado, a exemplo de JOÃO LIRA e FERNANDO BEZERRA COELHO, preferindo colocar em seu lugar uma pessoa sem a menor expressão política, tudo para não perder  as rédeas do poder, sem contar que não deu, sequer, a mínima chance a um outro correligionário político, ARMANDO MONTEIRO, que há bem pouco tempo fora eleito em sua chapa, como Senador da República, levando-o para o campo da oposição.
Sinceramente - e neste caso peço vênia, mais uma vez, aos que pensam de forma contrária -  tenho muito mais admiração por LULA, que, tendo sido eleito e reeleito Presidente do nosso País, cuidou em deixar livre a cadeira para ser ocupada por outrem, sem ceder ao “canto da sereia” por uma nova reeleição e, cabe lembrar, que, quando algumas pessoas do seu próprio partido o queriam de volta, como candidato no lugar de DILMA ROUSSEF, ele respondeu com um sonoro não!  Este, sim -  gostem ou não, alguns de vocês que me leem neste momento - é um grande líder político que merece toda a admiração do povo brasileiro!  Finalizo dando razão a ALBERES XAVIER, que, ao seu modo, reproduzindo o adágio popular, com uma perspicácia brilhante, costuma dizer: quer ser bom, preste!
Um abraço a todos.

*PAULO ROBERTO DE LIMA  é  graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente exerce o cargo de  Procurador  Federal. 

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