sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

BANDA MUSICAL SÃO JOSÉ: UM PATRIMÔNIO DE VERTENTES!

*Dr. Paulo Lima

Joca Souza Leão, cronista dos melhores, costuma dizer, que, para você escrever um artigo basta que lhe dêem o mote. E não é que ele tem razão? Não que eu seja cronista, longe disto, já que vocês, minha meia dúzia de fieis e pacientes leitores sabem que sou, sim, um grande enxerido! Mas, esta semana o meu prezado conterrâneo FERNANDO BARBOSA me fez um desafio, para que escrevesse um artigo sobre a nossa querida e centenária Banda de Música de nossa cidade, não menos querida, Vertentes. Aceitei de pronto, como enxerido que sou. E para mim não me custou nada, pois guardo desse tempo de quase infância, lembranças que jamais se apagarão da minha memória. E não somente lembranças, pois foi graças a esta Banda de Música que pude concluir os meus estudos! É que naquela época, por volta de 1971, 72, quando comecei a minha iniciação musical, minha família não tinha recursos financeiros para que eu pudesse custear os meus estudos e foi graças a esta profissão de adolescente que pude pagar as passagens de ônibus para a cidade de Surubim, onde cursei o Colegial, já que, não raras vezes, os meus pais sequer tinham o dinheiro da passagem de ônibus.  Como naquela época, já por volta de 1975/76, os prefeitos e chefes políticos da região costumavam valorizar esta autêntica cultura milenar das cidades interioranas, a banda de música era a principal atração das festividades religiosas da região e eu podia, com as chamadas tocatas, amealhar valorosos “trocados”, os quais davam para pagar as passagens e ajudar na economia de casa. E foi assim que terminei os meus estudos secundários, graças a esse grande patrimônio de nossa cidade!
Hoje, infelizmente, não é mais assim, pois os chefes políticos preferem gastar vultosas verbas dos cofres públicos com atrações musicais de gosto duvidoso, como o cantor Pablo (me desculpem o palavrão), por exemplo.  É que cantores desse naipe estão na moda, diriam vocês e respondo: quem sou eu para dizer o contrário! Afinal os donos do cofre são outros... Voltemos às recordações.
Lembro que comecei a estudar música por incentivo do meu primo Geraldo Pessoa, que para mim era como um irmão mais velho; um ano, se não me engano, cujas circunstâncias da vida nos fizeram trilhar caminhos absolutamente distintos, por conta de fatos que não gostaria de declinar nestas mal traçadas linhas.
 Lembro da Banda Musical São José desde criança, a abrilhantar (abrilhantar mesmo) as festividades do nosso Padroeiro, sob a regência do Maestro José Coelho. Naquela época não existia essa estória de curso superior de música; os alunos eram iniciados por músicos práticos, que tinham noções de teoria, as quais eram transmitidas para os alunos, de forma brilhante e catedrática, cabe ressaltar, a exemplo desse grande músico.    Não fui seu aluno, pois na ocasião já havia se afastado da regência.  A tarefa coube a Adolfo (não lembro o sobrenome), um clarinetista como nunca vi igual, que, nas horas principais do dia complementava a sua renda com o nobre ofício de sapateiro, tendo vindo de Toritama, nossa cidade vizinha, que na época era conhecida como a capital do calçado, para nos transmitir as primeiras lições.
Na minha época de criança a Banda de Música São José era uma das melhores da região, pois era composta de uma verdadeira seleção de craques. Lembro de alguns deles: Antônio Balbino, João Beato, João Morcego, Titico e Divaldo de Amaro Guarda, Manoel Tejo, José Agápito, meu tio, seu Júlio da tuba, dentre outros. Seu Júlio era uma figura... Era uma pessoa extremamente pacata, mas quando tomava “umas e outras” ficava valente que só, e passava a se autodenominar de “Júlio perigoso”, vejam vocês!   Ainda tive o prazer de conviver como colega de banda de todas estas figuras, que aos poucos foram sendo substituídas por novos colegas, a exemplo de GERALDO BARBOSA, mais conhecido como Geraldo dos Correios, GILVANDRO BARBOSA, “Zé Mangangá”, seu irmão, GERALDO PESSOA, meu primo, REGINALDO CABRAL, dentre outros... A Presidência da sociedade Musical São José das Vertentes, cabia, na época, a INÁCIO CAVALCANTI, um verdadeiro sacerdote, que, não raras vezes tirava dinheiro do seu próprio bolso, para custear despesas com a manutenção dos instrumentos musicais.
Sei que nos dias atuais o meu amigo GILVANDRO BARBOSA é o grande baluarte desta nobre instituição, a qual vive quase à míngua, já que os atuais mandatários da nossa cidade pouco ou quase nada fazem para manter vivo esse patrimônio de Vertentes.  Vez por outra doam um fardamento tinto sangue, para lembrar a cor da agremiação do seu partido, e lá vão os valorosos colegas, vestidos de vermelho... E não é só. Para que vocês tenham uma idéia do desprezo dessas pessoas para com a nossa Banda de Música basta registrar, que, por ocasião da reforma de sua sede, custeada pela prefeitura, cuja obra custou uma pequena fortuna, dizem que ainda surrupiaram parte do terreno dos fundos, que pertencia à nossa Banda de Música, vejam vocês!
Mas, apesar de todos esses percalços, segue ela firme na sua missão de preservar esta cultura milenar. Oxalá continue viva e orgulhando a nós, vertentenses, por mais alguns séculos!


*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, advogado e atualmente exerce o cargo de Procurador Federal.

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