sexta-feira, 19 de junho de 2015

VIVA A MÚSICA DO BRASIL!

*Dr. Paulo Lima

Sinceramente eu não gostaria de iniciar os meus escritos sobre a nossa música com outro título. É que morro e não deixo de exaltar a música do meu estado, Pernambuco, rico de ritmos e sons, nem do meu País. Não vou falar, genericamente, da MPB - a chamada música popular brasileira - pois não reconheço neste termo qualquer sinônimo que represente a música do Brasil e, por isto mesmo, prefiro chamar de música do Brasil.
Sei, e alguns de vocês que já passaram da casa dos cinqüenta, sabem muito bem, que devemos muito, ou melhor, o Brasil deve muito a personagens como Gilberto Gil, Chico Buarque, Tom Jobim, Geraldo Vandré, Nara Leão, Caetano Veloso e tantos outros que tiveram a coragem de ir para frente do palco de uma televisão - igualmente corajosa - refiro-me a TV Record, para gritar, através de suas composições, a insatisfação de uma grande camada da população brasileira, representada pelos nossos jovens - ah, sempre eles, os nossos jovens - com o estado de coisas (a ditadura militar) que tinha se imiscuído na nossa cultura, no sentimento do povo, em nome de uma ideologia política e econômica capitaneada pelos Estados Unidos de então, que, em decorrência da guerra fria, travada com a União Soviética, findaram por impor uma ideologia que não se harmonizava com o sentimento rebelde da juventude do Brasil, que ansiava por mudanças, já que, desde o golpe militar de 1964, quatro anos haviam transcorridos, sem qualquer alento de mudança numa situação política que, dia a dia, desagradava mais e mais os nossos jovens e não mostrava nenhuma perspectiva de mudança nesse quadro. E como eles eram sonhadores e corajosos!
Não é preciso que percorramos por entre as artérias daquelas canções para saber como aqueles jovens representavam a alma e a insatisfação de uma parcela considerável de nosso povo mais esclarecido de então. Digo isto porque na cidade onde vivia desde o meu nascimento, Vertentes, tinha pouco mais de seis, sete anos, não sei ao certo, e o que ouvia e via nos rádios e nas TV´s era quase sempre um endeusamento do País que representava o pensamento liberal de então - os Estados unidos - cuja imagem faziam questão de propalar que era o melhor dos mundos!  Os aparelhos de TV´s, eram artigos de luxo e apenas duas ou três residências tinham esse item em nossa cidade.  Até a Igreja Católica assim pregava - contra o perigo comunista de então - posto que, através da chamada "Aliança para o Progresso" tecia loas, através dos sermões dos párocos, a esta potência econômica, irmã siamesa do capitalismo, já que, em troca, recebia e distribuía parte da manteiga, do queijo e do leite em pó, de primeira qualidade, de forma "graciosa", para as camadas mais pobres de nossa população, na qual me incluía, com a minha família, isto depois que as famílias mais abastadas enchiam as suas despensas, numa tentativa de mostrar que o perigo comunista não deveria nunca prosperar! E tal intuito logrou pleno êxito, pelo menos durante certo tempo.
Deste modo, somente restava aos nossos jovens, nas principais capitais do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo, soltar a sua voz através da TV e, neste aspecto, os grandes festivais da música popular brasileira tiveram uma contribuição fundamental, pois auxiliaram cantores e compositores do quilate de Chico, Gil, Caetano e Vandré, dentre outros, a gritarem em nome de um Brasil que não queria ser o espelho opaco dos Estados Unidos, nem tampouco da ditadura militar, e não havia outra forma senão soltar a sua voz para as platéias da TV Record, através dos grandes festivais da música popular brasileira, cantando principalmente aquelas canções que diziam que o Brasil queria mais, que o Brasil queira ser livre, como livre era e ainda é o seu povo, desde a época do seu descobrimento, posto que o nosso índio nunca deixou se escravizar, como sabemos.  Bons tempos aqueles.
Sei que alguns de vocês, que me lêem, nem se lembram desses anos, posto que talvez ainda nem tivessem nascido. Mas, repiso, a contribuição que essas pessoas deram para formar uma nova consciência política e social no povo brasileiro, através da música, foi de fundamental importância na formação da história recente da nossa sociedade. Sei, e vocês sabem, que pessoas como Luiz Gonzaga, o nosso eterno "Rei do Baião", que tão bem cantou a alma do nordestino, ou mesmo Roberto Carlos, eternizado como o "Rei da Jovem Guarda", com suas músicas melosas, talvez devam ter o seu espaço reservado nesse acervo cultural representado pela nossa música popular. Mas, convenhamos, neste tocante fizeram muito pouco, ou quase nada. A esse respeito não quero discutir.
No entanto, creio que ninguém, absolutamente ninguém, jamais ousará questionar a importância desses jovens, que, desafiando o poder de então, através dos grandes festivais da Música Popular Brasileira tiveram a coragem de gritar, através de sua voz, a insatisfação de uma parcela significativa de nossa sociedade de então, que não queria ser oprimida por quem quer que fosse, em nome de uma ideologia política alienígena, e o fizeram da forma mais linda que existe: através da canção! Bons tempos aqueles...
Um abraço a todos.


*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e advogado. 

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