A terra onde eu nasci,
Vertentes, não tem rio. Tem apenas um pequeno riacho, que, faz muitos anos vi
correr cheio de água. Hoje está quase sempre seco. Quando era menino imaginava
que aquele pequeno riacho, mais adiante, iria se transformar num grande rio que
percorreria léguas e léguas, findando por desaguar num lugar distante, muito
bonito! Criança tem imaginação fértil. Às vezes, depois de adultos, nossos
pensamentos também nos levam ao infinito, assim como aquele riacho da minha
infância. Assim é a vida, um caminhar constante em busca do infinito. Não sei
bem porque comecei a rabiscar essas divagações. Creio que é porque um ano está
findando e um novo ano começa e é bom recomeçar, sempre, tal qual um rio
imaginário e perene, a serpentear percorrendo léguas e léguas, indo desaguar
num lugar distante e desconhecido, talvez no mar.
A nossa vida se parece
com um rio desconhecido. Nunca sabemos aonde vai desaguar e, creio, é isto que
nos faz ser diferentes dos outros seres vivos; esta perspectiva constante de
seguir adiante, mesmo sem saber direito aonde iremos parar, nem mesmo após a
nossa última caminhada, já que até do outro lado o desconhecido nos espera.
Agora me lembrei da
primeira vez em que vi o mar. Fiquei deslumbrado! Nunca tinha visto tanta água
e era tanta água que a vista findava por se perder lá adiante, no horizonte,
quando o mar se encontra com o céu. Ainda hoje, mesmo morando em frente ao mar
não me canso de admirá-lo! A terra onde nasci, a minha aldeia, também tem suas
belezas, mas não tem esse mistério das águas de um rio ou do oceano. Tem
pessoas que nascem, crescem e envelhecem sem ver o mar, e passam toda uma vida
sem sair de sua aldeia. O que se passa nos seus pensamentos? Seriam elas menos
felizes que outras, que passam grande parte de sua vida a cruzar os céus,
dentro de um avião conhecendo países, povos e culturas diversas e, ao fim, têm
muitas histórias para contar? Não creio.
Em verdade, não é
porque uma pessoa cresce e envelhece sem cruzar os limites da terra onde nasceu
que vai fazer dela uma pessoa infeliz. O que vai torná-la infeliz, creio, é a
busca constante por um lugar distante e desconhecido, sem saber direito o
motivo desta busca. Talvez essas pessoas precisem daquele pequeno riacho da
minha infância. Um riacho que se transforme num grande rio, mas que tenha
destino certo e elas saibam onde vai desaguar. Afinal, a nossa vida se resume a
isto: a busca constante por um destino certo.
Caminhemos, pois.
*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em
Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de
Direito do Recife, ex Procurador Federal (aposentado) e advogado.
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