sábado, 2 de janeiro de 2016

O Riacho da minha terra

*Por Dr. Paulo Lima

A terra onde eu nasci, Vertentes, não tem rio. Tem apenas um pequeno riacho, que, faz muitos anos vi correr cheio de água. Hoje está quase sempre seco. Quando era menino imaginava que aquele pequeno riacho, mais adiante, iria se transformar num grande rio que percorreria léguas e léguas, findando por desaguar num lugar distante, muito bonito! Criança tem imaginação fértil. Às vezes, depois de adultos, nossos pensamentos também nos levam ao infinito, assim como aquele riacho da minha infância. Assim é a vida, um caminhar constante em busca do infinito. Não sei bem porque comecei a rabiscar essas divagações. Creio que é porque um ano está findando e um novo ano começa e é bom recomeçar, sempre, tal qual um rio imaginário e perene, a serpentear percorrendo léguas e léguas, indo desaguar num lugar distante e desconhecido, talvez no mar.
A nossa vida se parece com um rio desconhecido. Nunca sabemos aonde vai desaguar e, creio, é isto que nos faz ser diferentes dos outros seres vivos; esta perspectiva constante de seguir adiante, mesmo sem saber direito aonde iremos parar, nem mesmo após a nossa última caminhada, já que até do outro lado o desconhecido nos espera.
Agora me lembrei da primeira vez em que vi o mar. Fiquei deslumbrado! Nunca tinha visto tanta água e era tanta água que a vista findava por se perder lá adiante, no horizonte, quando o mar se encontra com o céu. Ainda hoje, mesmo morando em frente ao mar não me canso de admirá-lo! A terra onde nasci, a minha aldeia, também tem suas belezas, mas não tem esse mistério das águas de um rio ou do oceano. Tem pessoas que nascem, crescem e envelhecem sem ver o mar, e passam toda uma vida sem sair de sua aldeia. O que se passa nos seus pensamentos? Seriam elas menos felizes que outras, que passam grande parte de sua vida a cruzar os céus, dentro de um avião conhecendo países, povos e culturas diversas e, ao fim, têm muitas histórias para contar?   Não creio.
Em verdade, não é porque uma pessoa cresce e envelhece sem cruzar os limites da terra onde nasceu que vai fazer dela uma pessoa infeliz. O que vai torná-la infeliz, creio, é a busca constante por um lugar distante e desconhecido, sem saber direito o motivo desta busca. Talvez essas pessoas precisem daquele pequeno riacho da minha infância. Um riacho que se transforme num grande rio, mas que tenha destino certo e elas saibam onde vai desaguar. Afinal, a nossa vida se resume a isto: a busca constante por um destino certo.  Caminhemos, pois.

*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, ex Procurador Federal (aposentado) e advogado. 

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