*Dr. Paulo Lima
E não adianta
procurar ou apontar culpados, muito embora creia que a morte de Camila não foi
um mero acidente; foi, no mínimo, um evento criminoso de natureza culposa, que
pode perfeitamente ser creditado à insensibilidade de empresários, de um lado,
que somente se preocupam em aumentar seus ganhos sem se importar com os
usuários desse péssimo serviço e do outro, das autoridades, que têm a
responsabilidade de fiscalizar, já que se trata de um serviço público que é
delegado a terceiros, e não o fazem.
No dia
seguinte ao acidente, o motorista foi intimado para prestar depoimento na
delegacia e cuidou de afirmar que não teve culpa pela morte da estudante já
que, segundo ele, o ônibus estava superlotado e a porta abriu, de forma
involuntária, ou por outrem, quando o mesmo se preparava para estacionar o
coletivo na parada seguinte aquela em que Camila havia subido no ônibus, para a
descida de alguns passageiros. Creio que o motorista não teve culpa ou, ao
menos, não queria que ocorresse tal fato. Na verdade ele é mais uma vítima
desse sistema de transporte, já que é obrigado a trabalhar nestas condições,
transportando passageiros espremidos dentro de um ônibus que mais parece uma
lata de sardinhas e, de fato, por ordem da empresa prosseguiu no trajeto -
vejam vocês - e ainda realizou mais duas viagens naquela noite, passando
inclusive pelo mesmo local onde aconteceu a tragédia.
E a cena
continua a se repetir todos os dias pelas ruas e avenidas do Recife e das
cidades que formam a chamada Região Metropolitana, com os ônibus superlotados
transportando pessoas, estudantes, trabalhadores, mães que levam suas crianças
para os hospitais públicos, e não se vê uma única autoridade levantar a sua voz
em favor desta população desassistida ou tomar providências efetivas para
solucionar este problema. A bem da verdade, tomei conhecimento, pelos jornais, que,
após esta tragédia foi apresentado na Câmara de Vereadores do Recife, um
projeto de lei que obriga que os ônibus trafeguem pelas ruas do Recife com
lotação máxima de passageiros em pé, equivalente a 50% (cinqüenta por cento)
dos assentos do veículo. Certamente, se tal projeto for aprovado e sancionado, se
transformará em letra morta pois não sairá do papel.
Por isso mesmo,
não creio que a morte de Camila sequer vá servir para melhorar este estado de
coisas, posto que esta tragédia, que dominou durante dois ou três dias as
manchetes dos jornais já caiu no esquecimento, permanecendo viva e dolorosa,
tão somente, no seio de sua família.
Um abraço a
todos.
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