Dr. Paulo Lima*
Eu sei que é muita audácia da
minha parte, pretender incursionar num tema tão árido e complexo, e coloca-lo num
artigo sucinto, mas, depois que assisti neste último domingo de setembro ao excelente
documentário – O DOSSIÊ JANGO – na TV-Brasil, não sossegaria enquanto não o
fizesse. É que após o término do filme, fiquei com a nítida impressão que o Brasil tem uma imensa dívida histórica
com o Presidente JOÃO GOULART.
Eu tinha acabado de completar sete anos quando
os subversivos – na verdade, bandidos de farda, travestidos de legalistas
- deram o golpe de 1º de abril, inapropriadamente intitulado de “revolução
de 31 de março”, que, em verdade não passou de uma quartelada, que
derrubou um presidente constitucional e legitimamente eleito pelo povo. E, o
mais engraçado é que, a partir de então, esse nome – JOÃO GOULART – passou a
ser sinônimo de medo, impronunciável, como se fosse ele o mais cruel dos
criminosos, vejam vocês!
Taxavam-no de comunista e
subversivo, quando em verdade os verdadeiros criminosos e subversivos se
encontravam nos quartéis e aboletados no poder, e assim permaneceram durante 21
longos anos.
E, até então, ou seja, até
assistir o documentário vivia a me perguntar, vez por outra, quando o assunto
vinha à balia, porque o Presidente JOÃO GOULART não resistiu ao golpe,
mesmo correndo o risco de seu ato ocasionar uma guerra civil. Agora sei o
quanto seu ato – de coragem, bravura e
abnegação - significou para o nosso País, posto que se assim não o fizesse,
certamente hoje seríamos uma nação dividida ao meio, já que os Estados Unidos,
este grande irmão que tudo pode e tudo vê –
a Presidenta DILMA que o diga – estava prestes a dividir o Brasil em dois,
com a sua poderosa esquadra, que, aquela altura dos acontecimentos já havia
cruzado a linha do equador em nossa direção. E não se espantem vocês pelo que
estou dizendo, pois basta ver como ficou o Vietnam e a Coreia, após serem
invadidas pelos Estados Unidos.
E pergunto aos meus botões será
que o Brasil precisa realmente, esquecer esta página de sua história? E para
que a anistia, geral e irrestrita, se não para proteger esses bandidos de
farda, que subverteram a ordem constitucional então vigente e que durante mais
de vinte anos cometeram toda a sorte de atrocidades, matando e torturando? E,
anistia, ao contrário do que muitos pensam, não é sinônimo de esquecimento: é
sinônimo de perdão, mas o perdão somente pode ser dado para aqueles que o
merecem; e não por uma mera imposição legal. Sei que alguns de vocês estão se
perguntando se teria coragem de escrever um artigo com esta contundência há
alguns anos atrás e de logo respondo: claro que não, pois posso ser meio
doido mas não chego a tanto! Em
verdade é a memória desse grande brasileiro quem precisa ser resgatada, pois ele sim, é que
foi violenta e ilegalmente afastado do cargo e condenado ao exílio perpétuo, pena
extremamente cruel, e que dela só se tem notícia na época do
Brasil-Colônia.
Pois bem, é certo que a
Comissão da Verdade está aí, como o seu próprio nome diz, para trazer a verdade
à tona, mas, acredito que de nada vai adiantar se esses crimes não forem
devidamente apurados e os criminosos –
aqueles ainda vivos – devidamente punidos e colocados atrás das grades,
como o fizeram a Argentina, Paraguai, Uruguai e o Chile, pois a dívida do nosso
País com esse grande homem somente será integralmente resgatada quando, enfim,
a história for verdadeiramente passada à limpo e mostrada sem nenhuma veste, a
todos os brasileiros. O tempo dirá se tenho, ou não, razão. Desculpem, mas precisava escrever este
artigo.
Um abraço a todos.
*PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade
Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente
exerce o cargo de Procurador Federal.
OBS: Os artigos publicados no Blog do Elisberto Costa não refletem necessariamente a opinião do Blog e são de inteira responsabilidade de seus autores.
OBS: Os artigos publicados no Blog do Elisberto Costa não refletem necessariamente a opinião do Blog e são de inteira responsabilidade de seus autores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário