*Por Dr. Paulo Lima
Bons tempos aqueles do
Ginásio Maciel Pinheiro, na nossa terrinha, Vertentes. Naquela época, se não me
falha a memória, ao terminar o primário tínhamos que fazer o curso de admissão
ao ginásio, que nada mais era que a quinta série e, somente após, começávamos a
cursar o primeiro ano ginasial.
Hoje em dia está tudo
tão mudado que nem mais sei como funciona esse negócio. Tinha eu pouco mais de
14 anos, quando comecei a cursar o Ginásio. Antes, porém, já sabia da fama e do
rigor do diretor do Ginásio, que era justamente o personagem central destas mal
traçadas linhas. O seu nome completo é JOSÉ
CALIXTO FERREIRA DE ARAÚJO e, salvo engano, é o primeiro dos quatro padres
filhos de nossa cidade, seguido pelo Padre Lino (Mons. Lino Rodrigues Duarte),
Padre Antônio Inácio, nascido no Povoado do Livramento e Padre Augusto César.
Faço a ressalva, pois não conheço nenhum outro Padre, filho da terra e posso
estar enganado.
Pois bem, Padre
Calixto era um sujeito extremamente magro e, certa feita, ainda criança, ao
avistá-lo passando em frente à casa de minha avó “mãe Nen Nen”, no sítio
Goiabeira, fiquei um tanto admirado porque ele conseguia ser ainda mais magro
que eu, um negrinho raquítico, na época com cinco, seis anos, não lembro bem,
que, de tão magro que eu era tinha que me segurar em alguma coisa para não sair
voando, quando dava uma ventania mais forte. E diante de minha admiração com
aquela figura esquelética de batina, me disse ela que ele tinha ficado assim de
tanto estudar. Por certo não se alimentava direito durante as refeições. Não
sei se a estória confere, mas, na minha ignorância juvenil passei um bom tempo
achando que estudar fazia mal à saúde. Além de dirigir o educandário com mão de
ferro Padre Calixto ensinava inglês. É aí que a estória começa.
Naquela época a gente
não sabia direito nem mesmo a denominação de nossa língua mãe e, para nós, a
palavra “inglês”, já era por si, difícil de pronunciar. Dentre os alunos do
primeiro ano do ginasial destaco os meus melhores amigos, EDUARDO CAVALCANTI,
REINALDO, conhecido por “Nau”, filho de um sargento reformado (o sargento
Alcino) e GILVANDRO BARBOSA. As aulas de inglês eram ministradas às segundas e
quartas e, para mim, eram os piores dias da semana; um verdadeiro tormento pois
não entendia bulhufas. Talvez tenha sido por isso mesmo, que, ainda hoje sou um
verdadeiro “analfa” nesta língua anglo-saxônica. Mas isto não era privilégio
meu. Disputando o último lugar comigo estava o meu amigo GILVANDRO BARBOSA,
conhecido por “Vando” de Maria de Chiquinho.
E eis que chegou o dia
do primeiro teste e lá fomos nós. Ao sair, Vando me perguntou se eu tinha
respondido alguma questão e eu lhe disse que tinha respondido quase todas. Para
não ficar por baixo ele me disse que tinha respondido tudo e ficamos nós,
naquela ansiedade, para saber quem tinha se saído pior. No dia da divulgação do
resultado, antes do início da aula, ao cruzar com o Padre Calixto no corredor
do Colégio, Vando Puxou-o pela batina que quase derruba o coitado e foi logo
lhe perguntado: “Padre Calixto, eu passei em “ingreis”? Ao que o Padre lhe respondeu,
sem paciência nenhuma: “Pelo que estou vendo, GILVANDRO BARBOSA, você não
passou nem em “puthugueis”!!! E saiu pelo corredor a fora resmungando.
Para matar a
curiosidade de vocês eu lhes informo que tirei nota 01, empatando com o meu
amigo Vando. A boa notícia, no entanto, é que no mês seguinte o Padre Calixto
deixou a escola e veio para o Recife, ministrar o seu sacerdócio, salvo engano
no bairro da Várzea e nós, craques no “ingreis”, conseguimos passar de ano.
Torço para que esteja bem e tenha engordado uns quilinhos a mais (os
“quilinhos” são por conta da minha balança), como eu, por exemplo…
Um abraço a todos.
*PAULO ROBERTO DE LIMA
é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela
Faculdade de Direito do Recife e atualmente exerce o cargo de Procurador
Federal.
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