sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O Padre Calixto!

*Por Dr. Paulo Lima

Bons tempos aqueles do Ginásio Maciel Pinheiro, na nossa terrinha, Vertentes. Naquela época, se não me falha a memória, ao terminar o primário tínhamos que fazer o curso de admissão ao ginásio, que nada mais era que a quinta série e, somente após, começávamos a cursar o primeiro ano ginasial.
Hoje em dia está tudo tão mudado que nem mais sei como funciona esse negócio. Tinha eu pouco mais de 14 anos, quando comecei a cursar o Ginásio. Antes, porém, já sabia da fama e do rigor do diretor do Ginásio, que era justamente o personagem central destas mal traçadas linhas. O seu nome completo é JOSÉ CALIXTO FERREIRA DE ARAÚJO e, salvo engano, é o primeiro dos quatro padres filhos de nossa cidade, seguido pelo Padre Lino (Mons. Lino Rodrigues Duarte), Padre Antônio Inácio, nascido no Povoado do Livramento e Padre Augusto César. Faço a ressalva, pois não conheço nenhum outro Padre, filho da terra e posso estar enganado.
Pois bem, Padre Calixto era um sujeito extremamente magro e, certa feita, ainda criança, ao avistá-lo passando em frente à casa de minha avó “mãe Nen Nen”, no sítio Goiabeira, fiquei um tanto admirado porque ele conseguia ser ainda mais magro que eu, um negrinho raquítico, na época com cinco, seis anos, não lembro bem, que, de tão magro que eu era tinha que me segurar em alguma coisa para não sair voando, quando dava uma ventania mais forte. E diante de minha admiração com aquela figura esquelética de batina, me disse ela que ele tinha ficado assim de tanto estudar. Por certo não se alimentava direito durante as refeições. Não sei se a estória confere, mas, na minha ignorância juvenil passei um bom tempo achando que estudar fazia mal à saúde. Além de dirigir o educandário com mão de ferro Padre Calixto ensinava inglês. É aí que a estória começa.
Naquela época a gente não sabia direito nem mesmo a denominação de nossa língua mãe e, para nós, a palavra “inglês”, já era por si, difícil de pronunciar. Dentre os alunos do primeiro ano do ginasial destaco os meus melhores amigos, EDUARDO CAVALCANTI, REINALDO, conhecido por “Nau”, filho de um sargento reformado (o sargento Alcino) e GILVANDRO BARBOSA. As aulas de inglês eram ministradas às segundas e quartas e, para mim, eram os piores dias da semana; um verdadeiro tormento pois não entendia bulhufas. Talvez tenha sido por isso mesmo, que, ainda hoje sou um verdadeiro “analfa” nesta língua anglo-saxônica. Mas isto não era privilégio meu. Disputando o último lugar comigo estava o meu amigo GILVANDRO BARBOSA, conhecido por “Vando” de Maria de Chiquinho.
E eis que chegou o dia do primeiro teste e lá fomos nós. Ao sair, Vando me perguntou se eu tinha respondido alguma questão e eu lhe disse que tinha respondido quase todas. Para não ficar por baixo ele me disse que tinha respondido tudo e ficamos nós, naquela ansiedade, para saber quem tinha se saído pior. No dia da divulgação do resultado, antes do início da aula, ao cruzar com o Padre Calixto no corredor do Colégio, Vando Puxou-o pela batina que quase derruba o coitado e foi logo lhe perguntado: “Padre Calixto, eu passei em “ingreis”? Ao que o Padre lhe respondeu, sem paciência nenhuma: “Pelo que estou vendo, GILVANDRO BARBOSA, você não passou nem em “puthugueis”!!! E saiu pelo corredor a fora resmungando.
Para matar a curiosidade de vocês eu lhes informo que tirei nota 01, empatando com o meu amigo Vando. A boa notícia, no entanto, é que no mês seguinte o Padre Calixto deixou a escola e veio para o Recife, ministrar o seu sacerdócio, salvo engano no bairro da Várzea e nós, craques no “ingreis”, conseguimos passar de ano. Torço para que esteja bem e tenha engordado uns quilinhos a mais (os “quilinhos” são por conta da minha balança), como eu, por exemplo…
Um abraço a todos.


*PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente exerce o cargo de Procurador Federal.  

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