sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A TERRA É DE TODOS

 *Dr. Paulo Lima

Pensava em dar outro título a estas mal traçadas linhas, mas, em homenagem ao Papa Francisco - um homem extraordinário - resolvi colocar no papel o que as nações mundiais tem escutado através de sua voz, nesses últimos dias, em vão.  Entre cercas e mortes foi o título com o qual comecei a rascunhar estes escritos, isto por conta das notícias que nos chegam, diuturnamente, sejam através dos jornais televisivos, seja a través da imprensa escrita, dando conta de centenas e centenas de mortes de inocentes, que, na tentativa desesperada de fugir das guerras nos seus países de origem, aventuram-se mar afora, em barcos infláveis de borracha ou em balsas, embarcações, que, de tão frágeis naufragam diante de uma onda mais forte.  Esta semana fiquei deveras chocado ao abrir uma postagem no Facebook, pois me deparei com uma imagem dantesca, de vários corpos, homens, mulheres e crianças, mortas, encalhando nas areias das praias libanesas. E fico a perguntar aos meus botões, o que essas pessoas teriam feito, meu Deus, para merecer morrerem desta maneira?  Nada, é a resposta. Apenas estão tentando fugir da guerra fratricida do ditador daquele País, com o chamado "Estado Islâmico", um movimento comandado por terroristas fundamentalistas religiosos, que mata sem dó nem piedade pessoas inocentes, em nome de uma religião, vejam vocês.  Não é somente naquele País. Falo de outras guerras, seja em países africanos vizinhos ou mesmo em países europeus, a exemplo das guerras da Sérvia, Croácia e Bósnia, na Europa Oriental, onde tombaram por terra milhares de inocentes. E não existe nada mais cruel e satânico do que se matar em nome de Deus!
Causa uma profunda tristeza ver imagens de inocentes naufragando nos mares sem nunca chegar com vida ao seu destino ou, numa outra situação, ser deportados quase que imediatamente, ao chegar nas costas dos países europeus, a exemplo da Itália, França, Alemanha, sendo colocados em um navio, que tem como destino o país de origem, onde irão morrer, de fome ou diante do fogo de uma metralhadora.
Causa uma profunda tristeza saber que o dinheiro gasto na fabricação e compra desses armamentos poderia perfeitamente ser empregado na produção de comida, remédios, vestes, moradia... Mas isso não interessa. O que importa é defender a fronteira de um território ou de um país, muitas vezes demarcada por cercas de arame farpado, que findam por aprisionar na sua teia mortífera um inocente, que no seu desespero morre espetado ao tentar ultrapassar aquela barreira cruel.  E porque tudo isso meu Deus? Se, afinal, como tem dito insistentemente o Papa Francisco, num quase clamor, a terra é de todos? É evidente que o Criador, ao nos entregar a terra, não colocou muros ou cercas de arame farpado para dividir as nações. Quem fez e continua fazendo essa odiosa separação são as pessoas, os governantes e, em outras situações, as facções terroristas e de natureza religiosa fundamentalista que tem suas raízes no preconceito e na discriminação, seja de raça, de religião ou de cor.
Me entristece saber e ver que até o nosso País não se encontra imune a essa terrível doença. Querem ver um exemplo? Quem de vocês, que me lê neste momento, não já viram ou ouviram alguém gritar revoltado contra o "bolsa família", por exemplo, que é pago a um pobre, muitas vezes chamando esse benefício social de bolsa esmola? O que é isso se não um preconceito? Querem ver outro exemplo?  Ontem mesmo li nas páginas da Folha de São Paulo, que um renomado neurocientista e professor da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, Carl Hart, foi barrado na portaria de um Hotel 5 estrelas, em São Paulo, onde havia sido convidado para dar uma palestra a Juízes e Promotores de Justiça. E sabem por quê? Porque é negro e usa aquelas tranças tipo "Bob Marley"! Isso é o que, afinal, pergunto?
O mais engraçado, se é que se pode achar esse fato engraçado, é que quando teve a sua entrada liberada e adentrou no auditório o que viu?  Uma plateia onde não havia um só negro.  Fez muito bem o neurocientista quando bradou para suas Excelência, em alto e bom som: "Vocês deveriam ter vergonha"! É certo, que, em frente daquela hotel de luxo não tem cerca de arame farpado, mas, indago, e precisa?

*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, ex-Procurador Federal, e atualmente exerce a advocacia.

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