segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Que tal ganhar uma grana denunciando corruptos?

Câmara Distrital de Brasília aprova um projeto de lei que prevê recompensa em dinheiro a quem delatar desvio de recursos públicos!
Essa merece ser comentada, pelo inusitado. O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), está com um “abacaxi” nas mãos. Trata-se de sancionar ou não um projeto aprovado pela Câmara Distrital de Brasília — correspondente à Assembleia Legislativa nos Estados — que é muito polêmico. Pelo projeto, quem denunciar desvios de recursos públicos receberá uma parte desse dinheiro a título de recompensa. O projeto de lei foi publicado no “Diário Oficial” do Legislativo do DF no dia 5 passado.
 A informação foi publicada no site da Agência Brasil na semana passada. Pelo projeto o denunciante receberá, em dinheiro, 10% do que for recuperado pelo Estado depois de finalizado o devido processo judicial. No caso de mais de um denunciante, a gratificação será dividida — o primeiro a informar o delito ficará com a maior parte (70%) do prêmio e os outros terão direito a 30%. Não terão direito à recompensa pessoas que tenham algum tipo de participação no ilícito, como uma forma de delação premiada. Também não podem receber o prêmio organizações não governamentais (ONGs) que trabalhem com transparência ou parlamentares.
 Com a publicação no “Diário Oficial”, Agnelo Queiroz tem 15 dias corridos para dar o seu aval ao projeto. Ironia das ironias, Agnelo é um dos governadores mais enrolados em histórias de corrupção, desde quando foi ministro do Esporte, investigado pela Polícia Federal como suspeito de praticar crimes de estelionato e falsificação de documento. A fraude foi descoberta pela Operação Shaolin, da Polícia Civil do DF.
 Voltando ao projeto que prevê recompensa a quem dedurar corrupção, se a moda pegar, outros Estados podem adotá-la — aliás, projeto semelhante tramita na Câmara Federal, do deputado Manato (PDT-ES), que institui o Programa de Recompensa e Combate à Corrupção. Ao repercutir o fato, o jornal “Correio Braziliense” fez uma analogia interessante. Como consequência, o País pode ingressar num ambiente semelhante ao que imperou no velho oeste americano, quando havia os caçadores de recompensa — cowboys que corriam o país perseguindo criminosos para entregá-los vivos ou mortos à Justiça, em troca do prêmio.
Lembro que o Brasil é um dos países de mais alto índice de corrupção do mundo (o que aumentou exponencialmente na última década). Dessa forma, poderemos ter os caçadores de corruptos, em busca do prêmio em dinheiro. Pelo tanto de corrupção (e de corruptos) no Brasil, a atividade pode tornar-se uma profissão das mais rendosas, assegurando uma atividade que logo passará a ser reconhecida pelo Ministério do Trabalho, e até se organizando em um forte sindicato.
 O “Correio” informou que a matéria teve 22 votos favoráveis no primeiro turno, e 15 no segundo turno — a Câmara tem 24 distritais. A votação foi simbólica — quando não há registro individual de votos — e nenhum dos deputados presentes no plenário se opôs ao projeto, apresentado por Israel Batista (PEN). O parlamentar justificou que os crimes contra a administração pública são prejudiciais à população e atingem direitos como a educação e a saúde. Ele diz que o objetivo é incentivar delações a fim de inibir a corrupção e estimular a fiscalização pública. “O objetivo é atingir a população civil, servidores públicos com informações privilegiadas e fazer com que a população saia da indignação e parta para a ação. Queremos mostrar que o cidadão vai ter mais um instrumento para cumprir o seu papel.”.
Especialistas ouvidos pelo jornal questionam a competência da Câmara em legislar sobre o assunto. Cientista político, Leonardo Barreto disse que retirar parte do recurso roubado dos cofres públicos e entregá-lo para um delator é desviar o dinheiro duas vezes. Ele comparou a situação a um roubo de caminhão de carga, no qual a pessoa que teve conhecimento do crime e entregou os ladrões às autoridades leve certa quantidade do carregamento para casa, como recompensa pelo ato.
 Em outras palavras, ao dar ao delator parte do roubo, o Estado estaria beneficiando-o com parte do produto do roubo. Segundo o cientista político, a melhor forma de incentivar um comportamento mais correto seria com uma premiação, mas nunca com o produto do roubo.
 Outro cientista político ouvido pelo jornal, Valdir Pucci, chamou a atenção, também, para o excesso de denúncias que a proposta pode provocar. Segundo ele, pagar por esse serviço (delação) pode acender uma onda de denuncismo, que também terá prejuízos para o Estado. Ele disse que é preciso analisar como essa informação será recebida e tratada, para não virar outro problema, de investigações inválidas e consequências ruins para pessoas inocentes.
 O “Correio” informou que se Agnelo Queiroz sancionar o projeto, a Ordem dos Advo­gados do Brasil do DF (OAB-DF) poderá apresentar uma Ação Direta de Inconsti­tu­cionalidade (Adin) a fim de contestar a matéria no Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios. O secretário-geral da Ordem, Juliano Costa Couto, disse ter dúvidas se esse texto é constitucional e que a OAB analisará a constitucionalidade tanto formal e material quanto o vício de iniciativa, no que diz respeito ao conteúdo da norma.(Fonte: Cezar Santos – Coluna Conexão – Jornal Opção)

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