*Dr.
Paulo Lima
Sempre costumo dizer que a violência diuturna e cada vez mais
crescente em nossa sociedade está fazendo com que percamos nossa sensibilidade,
o que é muito sério, já que não podemos nem devemos arrefecer, jamais, o nosso
sentimento de indignação frente aos acontecimentos que chocam, agridem e se contrapõem ao sentimento de irmandade e
de solidariedade que deve nortear a convivência entre nós, pessoas civilizadas. Refiro-me aos atos violentos divulgados pela
imprensa de nosso País, nos últimos dias, a exemplo da morte de um garoto de 11
anos, Bernardo Boldrini, no dia 04 de abril, na cidade de Três
Passos, no Paraná, crime cometido por sua própria madrasta, que lhe aplicou uma
injeção letal e depois o enterrou; da morte estúpida do torcedor Paulo
Ricardo, no Estádio de Futebol do Santa Cruz, no Recife, atingido na
cabeça por uma bacia sanitária atirada de cima das arquibancadas, na última sexta-feira, dia 02 de maio; e no sábado passado, dia 03, do brutal linchamento
de uma dona de casa, por nome Fabiane
de Jesus, na cidade de Guarujá, litoral de São Paulo. Indaguei, no meu
último artigo, se a estupidez e a brutalidade teriam limites e, infelizmente,
reconheço que não. É uma pena.
Vejam que a coitada dessa mulher foi brutalmente espancada até a
morte, por uma turba enfurecida, sem nenhuma razão, já que estava voltando da
igreja, onde foi buscar uma bíblia que havia esquecido e teria sido confundida
com uma mulher que estaria sequestrando crianças para realizar atos de magia
negra, vejam vocês! E se ela fosse realmente culpada, merecia a morte por
linchamento? A resposta é tão óbvia que
dispensa comentários...
O mais grave é que nem mesmo este fato – refiro-me ao sequestro de crianças – era verdadeiro, tudo não passando
de boatos, propagados através de um blog, chamado “Guarujá Alerta”, cuja
página no facebook postou um retrato falado de uma suposta sequestradora de
crianças. Acontece que nunca houve a tal sequestradora e, no entanto, o boato
foi propagado de forma irresponsável e deu no que deu. De quem é a culpa, afinal?
O fato é que a nossa sociedade está doente, já que não mais
acredita nas instituições, preferindo, no mais das vezes, fazer justiça com as
próprias mãos e isto é sobremaneira grave!
Sim, posto que na medida em que a própria sociedade deixa de
acreditar nas instituições por ela criadas e que lhe dão alicerce, passando a
fazer uso da força, justiçando inocentes ou mesmo culpados, está-se
diante de um fato muito grave, já que abandona-se o estado de direito
indo de encontro à barbárie!
A nós, que assistimos a estes fatos, quase que impassíveis, só nos
resta à indignação e a esperança de que sejam apurados e punidos com rigor,
para que não mais ocorram.
Um abraço a todos.
*Dr. Paulo Lima é Advogado e
atualmente exerce o cargo de Procurador Federal.
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