*Dr. Paulo Lima
Como seria bom se a gente só recebesse boas notícias! Já pensaram se a gente não perdesse pessoas a
quem amamos ou admiramos e se as palavras tristeza e saudade não fizessem
parte de nosso dicionário cotidiano? Mas não é bem assim, como sabemos. O certo
é que a vida é formada por incertezas, mas uma coisa é certa e inexorável: a morte.
Não deveria ser assim mas é. Aonde eu quero chegar, com esses lamentos, afinal?
Explico.
Até poucos instantes não sabia da morte de JAIR ROCRIGUES, já que
no mundo quadricular no qual vivo nos cinco dias da semana, fechado numa sala
de dezesseis metros quadrados, pouco ou nada sei do que ocorre lá fora durante
grande parte do dia e somente me dou conta
que o mundo caminha ao meu redor, quando chego em casa e me sento em
frente à TV para saber as notícias do dia. Infelizmente poucas são notícias
boas. A maioria, porém, nos entristece. Agora a pouco soube da morte de JAIR
RODRIGUES, por infarto, aos setenta e cinco anos, e fiquei a me perguntar
porque a morte tem que ser tão cruel? Alguém me disse, certa feita, não lembro
quem, que a morte escolhe quem vai levar. Sinceramente não acredito, pois se
fosse assim, somente levaria pessoas que não fariam nenhuma falta nesse mundo
de meu Deus.
Há tempos não ouvia falar em JAIR RODRIGUES, mas este cantor de
voz marcante fez parte de minha juventude e certamente, de muitos de vocês que
me leem neste momento. Agora me vem à lembrança aquela canção de VANDRÉ, “Disparada”,
que foi imortalizada na voz de JAIR RODRIGUES na época dos grandes festivais da
RECORD, que começa dizendo assim: “Prepare o seu coração, pras coisas que eu
vou contar, eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão e posso não lhe
agradar”... Engraçado que ela
também fala de “morte, o destino, tudo”...
Acabei de lembrar do dia em que LUIZ GONZAGA morreu. Na ocasião,
quando soube, tive uma sensação estranha, como se alguma coisa tivesse quebrado
dentro de mim. Eu não sei bem explicar o
que senti. Eu conheci, de perto, LUIZ GONZAGA, posto que tive a felicidade de
partilhar em alguns momentos - poucos,
mas marcantes - da companhia dessa lenda da nossa música nordestina. Naquele
dia, fiquei com um sentimento estranho, sem querer aceitar a morte do Rei do
Baião. Agora sei que este é o sentimento que toma conta de nós quando perdemos
alguém importante em nossa vida.
Acho que a morte deveria fazer uma concessão para pessoas
especiais e, ao invés de ceifar suas vidas, com aquela foice medonha em sua mão
esquerda, trocasse por uma varinha de condão transformando-as em pássaros. Já
pensaram? A cada morte de um LUIZ
GONZAGA, um JAIR RODRIGUES, ELIS REGINA, REGINALDO ROSSI (sim, ele mesmo, o eterno e inesquecível “Rei do Brega”, porque não?),
nascesse em seu lugar um passarinho cantador? Certamente seríamos muito mais
felizes e o mundo em que vivemos seria bem melhor.
Entretanto, diante das vicissitudes e descaminhos da vida, e
diante desta certeza inexorável, a nós, pobres mortais, só nos resta guardar na
lembrança suas canções e afastar a tristeza cantando, pois, afinal, como cantava
o “Rei do Baião”, “saudade o meu remédio é cantar”...
Um abraço a todos.
*Dr. Paulo Lima é Advogado e atualmente exerce o cargo de
Procurador Federal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário