*Dr. Paulo Lima.
Eu vou passar uns tempos sem escrever artigos de conteúdo
político. E o faço para que vocês, minha meia dúzia de fiéis leitores não
encham a paciência, deixando de uma vez por todas de ler o que escrevo, que,
reconheço, não é lá essas coisas. Por isto resolvi falar um pouco sobre a música
de Dorival Caymmi, já que hoje, dia 30 de abril deste ano de 2014 de Nosso
Senhor Jesus Cristo (vixe, to parecendo mais um Oficial de Registro de Cartório) ele,
se vivo estivesse, estaria completando 100 anos de vida. Isto porque,
convenhamos, não tem nada mais gostoso do que ouvir uma boa música, deitado
numa rede e contemplando o vazio do horizonte, como ele tanto gostava de fazer.
É que a rede, este símbolo da preguiça nordestina - como se o nordestino fosse preguiçoso, vejam vocês - combina
perfeitamente com uma música suave, que nos leva ao imaginário e acalenta o
nosso coração, fazendo com que esqueçamos, por alguns instantes, este vai e vem
estressante no qual se transformou o nosso dia a dia.
E,
reconheçamos, nós que gostamos da boa música, que não há nada melhor que ouvir
a voz grave e suave desse baiano, que, como ninguém soube cantar a magia e as
coisas da Bahia, muito embora tenha passado grande parte de sua vida, mais de
vinte anos, aos pés do Cristo Redentor. O mais engraçado, porém, é que, se
chegarmos na Bahia, nos lugares em que ele imortalizou com suas pinceladas
musicais e deu um colorido sem igual,
que somente ele sabia como, vamos chegar
a conclusão que Dorival Caymmi, além de
um grande músico e de um compositor
extraordinário era um grande mentiroso. Querem ver um exemplo? Experimentem ouvir “Coqueiro de Itapoã”. Tem música mais bela? No entanto a praia de Itapuã não tem muita graça
e só tem pedras. Sou mais a nossa praia de Boa viagem, com os seus amistosos
tubarões (é brincadeira, gente). E a
Baixa do Sapateiro? A música é linda e diz
assim: “Na Baixa do Sapateiro encontrei um dia; a morena mais frajola da
Bahia; pedi-lhe um beijo, não deu; um abraço, sorriu, pedi-lhe a mão, não quis
dar, fugiu”. E por aí vai. Se for a Salvador, vá ao centro e você vai
ver com seus próprios olhos o que é a baixa do sapateiro, um lugar sem graça
com um comércio decadente. Mas o que importa é a música de Dorival Caymmi, cuja
genialidade faz com que nos transportemos para um mundo imaginário que somente
ele conhecia e sabia cantar. Caymmi era tão genial que cantou até a nossa
“Dora, rainha do frevo e do maracatu; Dora, rainha cafuza de um maracatu; te
conheci no Recife dos rios, cortados de pontes, dos bairros das fontes,
coloniais”... E eu que pensava
até pouco tempo que essa canção era do nosso “Capiba”, vejam vocês até onde vai
a minha ignorância musical.
Assim
era Caymmi.
Podia
até ser um tanto mentiroso e até preguiçoso - e convenhamos, não tem nada melhor do que se espreguiçar numa rede,
como sempre digo - mas, com suas belas canções, e apesar dos “Chicletes”
e “Ivetes” (Deus
me livre de Ivete ou Bel Marques cantar uma canção de Caymmi) deu uma valiosa
contribuição para que a nossa música popular seja hoje, e sempre, uma das mais belas e ricas do
mundo!
Um abraço a todos.
*Paulo
Lima é advogado e atualmente exerce o cargo de Procurador Federal
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