sexta-feira, 23 de outubro de 2015

“ADEMAR ROUBA, MAS FAZ!”

 
*Por Dr. Paulo Lima

A frase acima, com a qual inicio estas mal traçadas linhas, sintetiza muito bem a maioria dos políticos que permeiam o cenário nacional. A maioria, frise-se bem. Para quem não sabe, ADEMAR DE BARROS foi um dos políticos brasileiros que ficou milionário às custas do dinheiro do povo. Governador do Estado de São Paulo, por duas legislaturas, e candidato a Presidente da República, por duas vezes, ficou na terceira colocação fato que demonstra, infelizmente, a tolerância do povo brasileiro para com os políticos corruptos e ladrões. Relatam fontes históricas que ADEMAR DE BARROS notabilizou-se como governador, pelas obras realizadas em São Paulo e também pelos desvios (eu não gosto muito desta palavra; prefiro roubo) do dinheiro dos cofres públicos.
Ao que se sabe, somente na casa da sua amante, por nome Ana Capriglioni, no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, Ademar de Barros chegou a esconder num cofre pesando trezentos e cinquenta quilos, a espantosa quantia de U$ 2,4 milhões de dólares, em valores da época, quantia esta, que, se corrigida e convertida em reais somaria alguns bilhões! Esta quantia foi "expropriada" (esta era a linguagem utilizada) pelos guerrilheiros da VAR-Palmares, uma organização de extrema esquerda que combateu o regime militar de 1964, cujo objetivo era a implantação de um regime comunista em nosso País, em cinematográfico assalto, ocorrido na tarde de 18 de julho de 1969 e foi, segundo o jornalista Elio Gaspari, em seu livro "A Ditadura Escancarada", o maior assalto praticado na história das forças de extrema esquerda no mundo até aquela época.  O roubo, cuja ação foi coordenada pelos dirigentes da organização, tinha como finalidade a utilização de uma pequena parte do dinheiro para financiar a guerrilha no Brasil e o grosso deveria ser enviado para o exterior, para a manutenção dos políticos e demais exilados, perseguidos pela ditadura militar. Segundo a ex-guerrilheira e militante Maria do Carmo Brito, parte do dinheiro, quantia correspondente a aproximadamente um milhão de dólares, foi encaminhado à Argélia, através do embaixador daquele País no Brasil, Hafid Keramane, sob os cuidados do ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, sendo depositada num banco da Suíça e não se sabe ao certo o seu destino e se realmente teve a utilização pretendida, no seu todo.
O fato é que, o então governador ADEMAR DE BARROS não teve como admitir oficialmente o roubo da fortuna, já que se tratava de dinheiro sujo, roubado do povo, mas isso não impediu que os órgãos oficiais e não oficiais de repressão na época travassem uma extraordinária perseguição aos guerrilheiros para por as mãos na fortuna, sem lograr êxito.
É certo que a "célebre" frase "Ademar rouba, mas faz", que, segundo os historiadores da época seria usada de forma não oficial nas campanhas do político, era perfeitamente tolerada pela população de São Paulo já que, para muitos, o que importava eram as obras e, no caso, o gestor público poderia perfeitamente "afanar" parte do dinheiro e reflete, ainda hoje, a qualidade da maioria de nossos políticos.  São Paulo, ao que tudo indica, parece ser um Estado pródigo nesses casos, já que em tempos recentes vimos o verdadeiro turbilhão de desvios de dinheiro, por PAULO MALUF, bem como os escândalos das obras do metrô de São Paulo, aí incluído o chamado "trensalão tucano" e tantos outros.
Mas não é só. Atualmente, assistimos a mais um "assalto" aos cofres públicos, através dos desvios bilionários praticados na PETROBRAS - um dos maiores patrimônios do povo brasileiro - fato que nem causa mais tanta perplexidade. É uma pena.
O fato é que desvios desta natureza, infelizmente, não são apenas privilégios dos grandes tubarões da política nacional. Exemplos podem ser citados às escâncaras, nas prefeituras de nossas cidades interioranas, aonde um prefeito chega para assumir o cargo levando pela corda uma cachorrinha - fazendo uso de um adágio popular - e, ao terminar o mandato (alguns, inclusive, teimam em não largar o osso, querendo se perpetuar no poder) amealham considerável fortuna.  O que mais nos entristece, no entanto é que, no mais das vezes, levada por uma paixão política, cega e doentia, certa camada da população prefere fazer "vistas grossas", como se o roubo do dinheiro do povo pudesse ser justificado pela realização de obras! São para essas pessoas, de mente pequena, que dedico estas mal traçadas linhas, homenageando-as com a sugestiva frase: "Ademar rouba, mas faz"!

*DR. PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, ex-Procurador Federal, e atualmente exerce a advocacia.

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