sábado, 31 de outubro de 2015

O PRINCÍPIO DA INTOLERÂNCIA

*Dr. Paulo Lima

Sempre que termino de escrever um artigo, ou melhor, uma crônica, para usar o termo apropriado, muito embora não seja nem me considere um cronista, mas, quando muito um enxerido, fico a matutar com os meus botões se terei inspiração para escrever outro, na semana seguinte. É que, para quem não tem o dom da escrita, como eu, escrever muitas vezes se torna uma atividade quase penosa. O que me motiva a continuar escrevendo, confesso, é a satisfação de, logo após, ler o texto e chegar à conclusão de que escrevi alguma coisa que preste e, vez por outra, sentir que alguém leu até o final os meus escritos, mesmo que não concorde com o meu pensamento. É deveras gratificante, confesso, mas não é tarefa fácil. Mesmo assim, teimoso que sou vou continuar a rabiscar palavras, não sei ao certo até quando...
Esta semana mesmo (hoje é domingo) pensava que a sexta feira viria em branco, para decepção de algum de vocês, que lê o que escrevo, mas basta abrir um jornal, uma revista, ou mesmo entrar no mundo virtual da internet e lá vem uma enxurrada de fatos, que me incentivam a correr para o computador e escrever alguma coisa. E antes que algum de vocês interrompa a leitura para perguntar aos seus botões aonde quero chegar com esta tergiversação toda, vou ao ponto.
Comecei a estudar Direito no ano de 1980 e desde que subi os degraus da Casa de Tobias Barreto pela vez primeira aprendi que ele, o Direito, é alicerçado em princípios, os quais, por seu turno, fazem nascer às leis, as constituições, enfim, as normas que disciplinam a convivência em sociedade. Dentre eles sobressaem-se o princípio da legalidade, moralidade e impessoalidade. No entanto, costumo dizer que nenhum deles é mais importante que o princípio da razoabilidade, este sim, muito embora não conste da Lei, nem tampouco da Constituição Federal é, ao meu sentir, a verdadeira pedra que sustenta os demais princípios que regem a nossa convivência em sociedade! No entanto, nestes últimos dias assisto, com tristeza, ao crescimento de um outro princípio, o da intolerância - e nem sei se deveria ser chamado assim - já que a intolerância não serve para nada, a não ser para disseminar o ódio!  Mas, infelizmente, está se tornando princípio. É intolerância para tudo o quanto é lado: de cor, de raça, credo religioso, opção sexual, política, nacionalidade, e por aí vai. Querem ver um exemplo?
Esta semana, soube pelas redes sociais que o Prefeito de São Paulo, FERNANDO HADDAD e o ex-Senador da República EDUARDO SUPLICY, foram hostilizados e ofendidos em evento na Livraria Cultura, em São Paulo, onde foram participar de sabatina acerca da mobilidade urbana, naquela Capital. Os manifestantes, que se sentem cidadãos de primeira classe e, por isto mesmo, no direito de agredir as pessoas, certamente por terem votado em AÉCIO NEVES, ou em algum outro representante da direita de nosso País, somente não chegaram às vias de fato, agredindo fisicamente os dois palestrantes, dentre os quais um senhor de 74 anos - refiro-me a EDUARDO SUPLICY, atualmente Secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo - porque foram impedidos pelos funcionários da Livraria Cultura. “A certa altura uma senhora, com a espuma escorrendo pelo canto da boca, gritava a todos os pulmões: “Aqui é a terra dos Coxinhas”; Aqui é a terra de pessoas trabalhadoras; Vai prá Cuba, vagabundo; Petralhas ladrões”; dentre outros adjetivos, sendo acompanhada pelos demais.  E sabem contra quem ela gritava e destilava o seu ódio? Contra um jovem funcionário da Livraria, um trabalhador honesto que  não deve ganhar mais que um salário mínimo, que a tinha impedido de se aproximar fisicamente do Ex-Senador EDUARDO SUPLICY. Vejam vocês, até onde vai o ódio dessas pessoas. A que se deve tanto ódio e tanta intolerância, afinal? 
A pergunta é pertinente, porque sabemos que ladrões do dinheiro público existem aos montes, em todos os partidos e, ao que eu saiba, nem EDUARDO SUPLICY, nem FERNANDO HADDAD, homens probos estão sendo acusados de ladrões do dinheiro público, a não ser por essa meia dúzia de fascistas, que teimam em não aceitar a derrota nas urnas. Não é o caso, porém, de tantos outros (políticos principalmente) e os fatos recentes (a famosa "Operação Lava Jato", a "Operação Zelotes", o "Escândalo de Furnas", dentre outros) não nos deixam mentir. No entanto, tornou-se uma constante nas classes sociais mais abastadas e, reconheço, até em algumas camadas menos favorecidas e mais desinformadas, esse ódio e essa intolerância contra políticos do Partido dos Trabalhadores, a ponto de um conhecido nosso, que não vou declinar o nome, por razões óbvias, não mais querer disputar um cargo eletivo de vereador pelo PT, já que acredita que não seria eleito... Fatos desta natureza, lamentáveis, me fazem perguntar aos meus botões: será que estamos fadados a conviver, doravante, com o princípio da intolerância, como regra cogente? E eles, como sempre, permanecem calados...

*DR.PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife, ex-Procurador Federal, e atualmente exerce a advocacia.

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